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O que é um presbítero?

O presbítero  é uma figura presente em diversas tradições cristãs. No catolicismo, ele é identificado como padre, o sacerdote. Em algumas tradições protestantes, o presbítero é identificado como pastor, e em outras ele é um auxiliar do pastor em suas atividades espirituais. Além disso, as qualificações para ser um presbítero variam em cada grupo. Porém, a Bíblia apresenta esse ofício como algo de fundamental importância para a vida de uma igreja local.

Por isso, precisamos nos voltar às Escrituras, especialmente ao Novo Testamento, para recuperarmos não só o significado do que verdadeiramente é um presbítero, mas também para entendermos a responsabilidade e as qualificações necessárias para o exercício desse encargo.

I. O presbítero: sua origem na igreja em Jerusalém.

Embora Jesus tenha se declarado dono e construtor da Igreja (“edificarei da minha igreja” – Mateus 16:18), não o encontramos dando explicações detalhadas sobre como a igreja deveria se organizar em cada localidade. Sabemos que a igreja é uma construção do próprio Jesus, na qual Ele está pessoalmente envolvido e garante que onde houver dois ou três reunidos em Seu nome, aí Ele estará presente.

Apesar de não ter estabelecido uma estrutura completa sobre a igreja, Jesus encarregou seus doze apóstolos da missão de pregar o Evangelho a toda criatura (Marcos 16: 14:18) e fazer discípulos de todas as nações (Mateus 28:18-20). Nos primeiros anos após a ascensão do Senhor, os apóstolos permaneceram na cidade de Jerusalém, e ali eram a principal autoridade na igreja: eles ensinavam (Atos 2:42), administravam as ofertas, eram responsáveis pelo socorro aos necessitados (Atos 4:34-35) e convocavam a igreja (Atos 6:2).

Devido ao crescimento da igreja em Jerusalém, se fez necessária a escolha de sete colaboradores dos apóstolos, aos quais foi delegada a responsabilidade da distribuição diária dos alimentos para as viúvas (Atos 6:1-7). A palavra grega usada para descrever esse trabalho é diakonia (serviço). Por isso, entende-se que Atos 6 descreve a origem do ministério dos diáconos (servos), que aparecem mais tarde em Filipenses 1:1 e também em I Timóteo 3:8-13.

A partir do capítulo 10, o livro de Atos se ocupa em narrar a expansão da fé cristã aos gentios, relatando a conversão de Cornélio e o nascimento da igreja em Antioquia, cidade em que os discípulos são chamados pela primeira vez de cristãos (Atos 11:19-26).

A narração do nascimento da igreja em Antioquia termina da seguinte forma:

“Os discípulos, cada um conforme as suas posses, resolveram enviar socorro aos irmãos que moravam na Judéia; o que eles, com efeito, fizeram, enviando-o aos presbíteros por intermédio de Barnabé e de Saulo” (Atos 11:30)

Essa é a primeira referência à palavra “presbítero” no livro de Atos.  A narração não se preocupa em explicar quem eles são e qual função exerciam na igreja em Jerusalém. Apenas menciona sua existência e que receberam a ajuda enviada pela igreja de Antioquia.

Presbítero é uma palavra que foi transliterada do grego ( πρεσβυτερος, presbyteros) que quer literalmente quer dizer ancião, pessoas de idade.

Os presbíteros aparecem novamente na igreja em Jerusalém em Atos 15. Dessa vez eles estão juntamente com os apóstolos definindo uma questão doutrinária importantíssima. A igreja em Antioquia (que era uma comunidade gentílica), envia representantes aos apóstolos e presbíteros em Jerusalém para consultá-los a necessidade da circuncisão dos gentios que abraçavam à fé.

“Então, se reuniram os apóstolos e os presbíteros para examinar a questão” (Atos 15:6)

A carta enviada aos cristãos de Antioquia a fim de orientá-los quanto ao tema da circuncisão foi assinada por apóstolos e presbíteros:

“Os irmãos, tanto os apóstolos como os presbíteros, aos irmãos de entre os gentios em Antioquia, Síria e Cilícia, saudações” (Atos 15:23).

Anos mais tarde, no capítulo 21 de Atos, quando Paulo chega a Jerusalém, os apóstolos já não são mencionados, pois provavelmente já não estavam naquela cidade. Mas lá estavam os presbíteros.

“Tendo chegado a Jerusalém, os irmãos nos receberam com alegria. No dia seguinte, Paulo foi conosco encontrar-se com Tiago, e todos os presbíteros se reuniram” (Atos 21:17).

A partir dessas narrativas podemos concluir que os presbíteros eram homens que compartilharam com os apóstolos a liderança na comunidade em Jerusalém, e também os substituíram, à medida que foram se retirando daquela cidade.

A figura dos presbíteros não é encontrada apenas na igreja em Jerusalém, mas também nas igrejas gentílicas, onde o papel desses homens vai ficando especialmente claro, principalmente através do trabalho missionário de Paulo.

II. A instituição de presbíteros nas igrejas gentílicas.

Como já vimos, em Antioquia se estabeleceu a primeira comunidade de cristãos gentios, a qual era servida por um conjunto de profetas e mestres, dentre os quais estavam Paulo e Barnabé. Estes, depois de chamados por Deus, foram enviados a fazerem discípulos em diversas localidades. Após uma longa jornada, antes de retornarem para Antioquia, decidiram voltar pelas cidades por onde passaram, fortalecendo os discípulos e também instituindo presbíteros em cada igreja.

“E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido” (Atos 14:23).

Mais adiante, já em sua terceira viagem missionária, Paulo se encontra em Mileto, de onde manda chamar os presbíteros da igreja em Éfeso, aos quais dá orientações de como deveriam agir, fala sobre a responsabilidade que haviam recebido do Senhor, e também se despede dos mesmos. A orientação mais clara de Paulo sobre a responsabilidade dos presbíteros está em Atos 20:28.

“Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes  igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” (Atos 20:28).

Anos mais tarde, já perto do fim de sua vida, vemos Paulo dando orientações a Tito sobre o estabelecimento de presbíteros em cada cidade:

“Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme de prescrevi” (Tito 1:5).

Logo em seguida, Paulo usa do termo bispo para se referir aos presbíteros.

Em sua primeira carta, Pedro também dá orientações aos presbíteros, e os descreve como pastores do rebanho:

“Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada: pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa de glória” (I Pedro 5:1-4).

A carta de Tiago também registra a figura dos presbíteros, colocando-os em uma função eminentemente pastoral, pois envolve a oração pelos enfermos e o ouvir confissões de pecados (Tiago 5:14-16).

A partir do que vimos até aqui, podemos nos aprofundar nas funções do presbítero, bem como na sua equivalência com as figuras do bispo e do pastor.

III. As funções do presbítero (supervisionar, pastorear e presidir) e sua equivalência com as figuras do bispo e do pastor.

O textos de Atos 20:28 e I Pedro 5:1-5 são os mais claros sobre a função dos presbíteros.

Paulo diz que os presbíteros (anciãos) foram constituídos bispos, com um propósito: pastorear. Mas o que ele quis dizer com isso?

Primeiramente, precisamos considerar que o termo presbítero não se refere a uma atividade mas sim a uma condição: literalmente, presbítero é ancião, pessoa idosa. Ou seja, o termo por si só não explica o que um presbítero faz, mas apenas expressa o que um presbítero é: um ancião. Porém, quando Paulo chama os presbíteros de Éfeso em Atos 20, ele não estava chamando todos os homens idosos daquela igreja, mas sim os anciãos que tinham a responsabilidade de supervisionar a igreja, pois a palavra bispo significa supervisor.

“Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual Espírito Santo vos constituiu bispos (supervisores), para pastoreardes  igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” (Atos 20:28).

Então, os presbíteros aos quais Paulo se dirige são homens maduros na fé (não necessariamente avançado em idade), que foram instituídos como supervisores da igreja em uma dada localidade, a fim de pastorear o rebanho.

A partir desse texto vemos a equivalência entre presbíteros e bispos. Não se tratar de encargos diferentes em uma hierarquia, mas ambos os termos se refere a um mesmo ministério. Quando o termo presbítero é usado, se  refere uma qualificação pessoal (homens maduros), e quando o termo bispo é usado faz referência ao trabalho desse homens (supervisores).

Presbítero e bispo são termos intercambiáveis.

Concluímos que os presbíteros são homens maduros na caminhada com Cristo, os quais foram estabelecidos como supervisores, recebendo uma autoridade para apascentar a igreja na vontade do Senhor.

III.a. Presbíteros são bispos (supervisores) da igreja numa localidade

A palavra bispo vem do grego episcopos ( επίσκοπος), que quer dizer literalmente supervisor (epi = sobre, de cima + skopos = vista, ou seja, “aquele que vê por cima, pelo alto, que supervisiona”). Pode ainda ser traduzido como superintendente ou supervisor.

O presbítero foi instituído para literalmente colocar os olhos sobre o rebanho, para supervisionar, a fim de conduzi-lo no Caminho.

Como já vimos, os termos presbítero e bispo são intercambiáveis no Novo Testamento. Por isso, em Filipos vamos encontrar bispos e diáconos, sem fazer referência ao termo presbítero. Isso não significa que não haviam presbíteros, mas sim que estes eram os bispos daquela comunidade.

Em I Timóteo 3:1-13, Paulo dá orientações sobre as qualificações de bispos e diáconos, sem mencionar presbíteros. Ainda diz que quem aspira o episcopado (supervisão) excelente obra almeja. Um pouco mais adiante, Paulo já não usa o termo bispo, mas ensina a Timóteo como os presbíteros devem ser honrados (I Timóteo 5:17-22).

III.b. Presbíteros são pastores da igreja numa localidade

Um presbítero é colocado na posição de supervisor (bispo), não para atender seus próprios interesses, mas sim para pastorear o rebanho. A função dos presbíteros é eminentemente pastoral.

Pedro dá orientações sobre como os presbíteros devem pastorear o rebanho (I Pedro 5:1-4), e diz que receberão a recompensa quando o Supremo Pastor, Jesus, se manifestar

A carta aos Hebreus, embora não fale sobre presbíteros, fala sobre pastores ou guias, homens responsáveis por conduzir os discípulos, e dos quais prestarão contas.

“Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil” (Hebreus 13:17).

Os presbíteros são pastores, homens que velam pelas vidas dos discípulos, que põem os olhos sobre o rebanho.

O termo pastor é comum na Bíblia, referindo-se principalmente a pastores de ovelhas, homens que protegiam, guiavam e alimentavam as ovelhas. Muitas vezes o termo é usado de maneira figurada, referindo-se àqueles que tem responsabilidade de cuidar do povo de Deus.

Num certo sentido, todos nós devemos exercer uma ação pastoral na vida de nossos irmãos, pois devemos cuidar uns dos outros. Porém, há aqueles que são responsáveis por pastorear toda a comunidade numa determinada localidade. Esses são os presbíteros.

Uma das qualificações para ser um bispo é a de governar bem a sua própria casa, pois “se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?” (I Timóteo 3:4). Vemos aí que uma das principais dimensões do trabalho de um bispo é o cuidado da igreja.

III.c. Os presbíteros são aqueles que presidem a igreja numa localidade.

Já vimos que em I Timóteo 5:17-22, Paulo dá orientações sobre a honra aos presbíteros. E ele começa da seguinte forma:

“Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino” (I Timóteo 5:17).

Está claro para nós que a atividade pastoral dos presbíteros envolve o ensino e a palavra. Porém, Paulo cita outra dimensão do ministério do presbítero: a presidência.

Sabemos que todos os presbíteros devem ensinar (uma das qualificações para ser um bispo é a aptidão para o ensino). Porém, dentro de um mesmo colegiado de presbíteros pode haver certa distribuição de responsabilidades, alguns se afadigando mais no ensino, mas sobre todos pesa o encargo de presidir, de tomar decisões gerais sobre a comunidade e ser responsável por isso. Timóteo, como encarregado por Paulo de orientar os presbíteros, deveria observar quem cumpria com zelo a presidência.

Presidir é um dom que deve ser exercido com diligência (Romanos 12:8). Aos Tessalonicenses, Paulo destaca os que trabalham e presidem, os quais devem ser tratados com honra.

“Agora, vos rogamos, irmãos, que acateis com apreço os que trabalham entre vós e os que vos presidem no Senhor e vos admoestam; e que os tenhais com amor em máxima consideração, por causa do trabalho que realizam. Vivei em paz uns com os outros” (I Tessalonicenses 5:12,13).

IV. A pluralidade de presbíteros em cada localidade: o presbitério

De tudo o que observamos até aqui, podemos constatar mais uma coisa: onde quer que o Novo Testamento mencione presbíteros, sempre menciona no plural. Nunca encontraremos no Novo Testamento algo como “o presbítero de Éfeso”, “o presbítero de Filipos”, mas você sempre verá um pluralidade, um colegiado de presbíteros em cada cidade (ex: Atos 14:23, Tito 1:5).

Timóteo é exortado por Paulo a não negligenciar o dom que havia recebido por meio da imposição de mãos do presbitério (I Timóteo 4:14).

Mas, qual seria o motivo para essa pluralidade de presbíteros numa localidade? A resposta é simples: os presbíteros, antes de serem pastores sobre o rebanho, também necessitam ser pastoreados. Por isso, uma pluralidade de presbíteros possibilita que estes se apascentem mutuamente, cuidem uns dos outros, e assim possam cuidar do rebanho. Por isso Paulo exortou os presbíteros de Éfeso:

“Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” (Atos 20:28 RA).

“Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus, que ele comprou com o seu próprio sangue” (Atos 20:28 NVI).

Baseado no texto de Eclesiastes 4:9-12, Sérgio Franco destaca, em seu livro Plenitude, alguns benefícios da pluralidade:

Na pluralidade há proteção: “Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade”.

Na pluralidade há restauração de vida e ministério: “Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante”.

Na pluralidade há alento e mutuamente nos aquecemos no “inverno”: “Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará?”

Na pluralidade há variedade de dons e serviços: “porque têm melhor paga do seu trabalho…” (I Co. 1:12; Ef. 4:11-16).

V. Conclusão: As qualificações do presbítero

Tanto em sua primeira carta a Timóteo como também na carta a Tito, Paulo se ocupa em descrever quais são as qualificações para que alguém possa ser um presbítero. Como já vimos, o próprio termo já indica que quem exerce esse encargo precisa ter certa maturidade na fé. Nem sempre será necessário que seja um ancião propriamente dito, mas sim um homem experiente na caminhada com Cristo.

Há duas listas com as qualificações para o presbítero. A primeira está em I Timóteo 3:1-7, e a segunda está em Tito 1:5-9. Ambas as listas são muito parecidas, e o que mais chama a atenção é que a maioria esmagadora das qualificações dizem respeito ao caráter. E não poderia ser diferente, uma fez que o presbítero deve ser modelo do rebanho, deve ser um pastor, conduzindo as ovelhas por caminhos que ele já está trilhando. Por isso, a maior parte das qualificações são sobre o caráter do presbítero, incluindo também a forma como cuida de sua família e o testemunho dos que são de fora.

No que diz respeito às habilidades, as lista de I Timóteo 3 só menciona a aptidão para o ensino (v. 2). A lista de Tito 1 também elenca a mesma habilidade, ao dizer que o bispo deve “ser apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem” (v. 9).

Há duas orientações de Paulo que não podem ser ignoradas na instituição de presbíteros.

A primeira diz respeito, a necessidade de que os presbíteros sejam primeiramente experimentados antes de serem instituídos. Vemos que, ao falar sobre os diáconos, Paulo diz o seguinte: Também sejam estes primeiramente experimentados; e, se se mostrarem irrepreensíveis, exerçam o diaconato” (I Timóteo 3:10). Ou uso da expressão “Também“, indica que os diáconos deveriam ser experimentados assim como os presbíteros, mencionados anteriormente, o eram.  Esta necessidade está intimamente relacionada com a segunda orientação: não deve haver precipitação na instituição de presbíteros. Paulo, ao falar de como deveria ser tratado o pecado dos presbíteros, dá a seguinte orientação a Timóteo: “A ninguém imponhas precipitadamente as mãos. Não te tornes cúmplice de pecados de outrem. Conserva-te a ti mesmo puro” (I Timóteo 5:22). A designação de presbíteros é um tema de grande responsabilidade, e por isso exige cautela, prudência, discernimento e sensibilidade à direção de Deus.

O serviço dos presbíteros é de fundamental importância para o crescimento saudável da igreja, e esses homens devem ser recebidos com honra e estima, porque cuidam do rebanho como responsáveis diante de Deus.