Reflexões

A ira de Deus

Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus (João 3:36).

Deus se ira. Parece difícil entender que isso seja possível, considerando que uma das declarações mais conhecidas da Bíblia é a de que “Deus é amor”. E sabemos que o amor não se ira. Sendo assim, como um Deus que é amor pode se irar?

Acerca desse tema, a primeira coisa a aprender é que a ira de Deus em nada se assemelha à ira dos homens. Embora a designação seja a mesma, esses sentimentos são completamente diferentes. Para entender a diferença que há entre a ira divina e a ira humana, é importante saber que Tiago nos diz que “a ira do homem não produz a justiça de Deus” (Tiago 1:20) e Paulo nos faz ver que “a ira de Deus é revelada do céu contra toda impiedade e injustiça dos homens” (Romanos 1:18). Partindo dessas duas afirmações, sabemos que a ira divina é a ação de Deus executando Justiça, e é por isso que não se confunde com a ira humana, pois esta é incapaz de alcançar o mesmo objetivo. Ao contrário, a ira de Deus é a aplicação da justiça por mãos Daquele que tem pleno direito para isso.

Chegamos a essa conclusão também ao lermos Romanos 3: 5, onde Paulo associa a ira de Deus à aplicação de Sua justiça: “Mas, se a nossa injustiça traz a lume a justiça de Deus, que diremos? Porventura, será Deus injusto por aplicar a sua ira?”. Quando Deus aplica sua ira, Ele traz à lume sua justiça, de forma que esta esteja em perfeita consonância com seu amor.

Portanto, a ira de Deus se distingue da ira dos homens tanto pela sua origem como também pelo objetivo que pretende alcançar.

A ira de Deus parte de um Ser absolutamente Santo, perfeito em Seus caminhos e reto em seus juízos. Ele é paciente, tardio em irar-se e quer que todos os homens cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Por isso, quando executa a Sua ira, Deus realmente está fazendo justiça, sem mistura de qualquer outra intenção.

Já a ira dos homens parte de um coração contaminado pelo pecado, o qual é enganoso, e de onde procedem maus desígnios. Por isso, essa ira é perigosa, pois é movida muitas vezes por interesses egoístas e mesquinhos, e não raro é executada de modo desequilibrado e desproporcional. Por isso, Paulo nos mostra que a ira humana pode abrir a porta para uma ação maligna. É importante observar que o apóstolo nos adverte sobre “não dar lugar ao diabo” no contexto em que nos ensina a como lidar com a ira:

“Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo” (Efésios 4:26,27).

A verdade de que Deus executa Sua justiça deve produzir em nós pelo menos três sentimentos.

O primeiro deles é muito claro: a gratidão. A partir do momento em que nos rendemos a Jesus, já não estamos mais sob a ira de Deus. Antes, éramos por natureza filhos da ira, mais Deus fez cair sobre Jesus o peso dos nossos pecados. O escrito de dívida que era contra nós foi rasgado no Calvário. Por isso, não há condenação para os que estão em Cristo. Deus executou sua ira fazendo-a cair sobre Seu Filho, e nós agora temos livre acesso à presença do Pai por meio do caminho que nos foi aberto pelo sangue de Jesus. Por isso, a verdade bíblica sobre a ira de Deus deveria produzir gratidão em nossos corações e louvor em nossos lábios.

“Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu por nós para que, quer vigiemos, quer durmamos, vivamos em união com ele” (I Tessalonicenses 5:9,10).

O segundo sentimento é o temor, ou seja, a consciência da nossa responsabilidade diante de Deus. Afinal, “uma vez que vocês chamam Pai aquele que julga imparcialmente as obras de cada um, portem-se com temor durante a jornada terrena de vocês” (I Pedro 1:17).

O terceiro sentimento é a esperança nos corações daqueles que confiam no Senhor, pois diante da pergunta “não agirá com justiça o Juiz de toda a terra?” (Gênesis 18:25), podemos afirmar com toda certeza que sim, Ele agirá com justiça. Isso nos faz descansar, pois “esperamos novos céus e nova terra, onde habita a justiça” (II Pedro 3:13). Ali, o próprio Deus enxugará dos nossos olhos “toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Apocalipse 21:4).

Alimentados por essa verdade, e com os corações cheios de temor e esperança, prossigamos para alcançar tudo o que o Senhor tem para nós.

Em Cristo,

Anderson Paz