Ensino

Guardar o coração e a boca

A relação entre guardar a boca e o guardar o coração

Por que as pessoas ouvem tantas coisas hoje, mas não ouvem aquilo que realmente faz a diferença em suas vidas? Todos nós, cristãos, sabemos que Deus escolheu salvar o mundo pela “loucura da pregação” (I Coríntios 1:21). Talvez para o incrédulo isso não faça o menor sentido: como é que alguém falando alguma coisa sobre Deus ou sobre a palavra pode salvar outra pessoa? Mas a fé que salva vem exatamente assim, pela mensagem, pela palavra. A mensagem sai e encontra um coração sedento, produzindo vida. É algo milagroso.

A Palavra é vida, é uma semente poderosa. Jesus disse que “…as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida” (Jo. 6:63). Imagine a Palavra saindo, encontrando corações mortos e gerando vida neles. 

Quantas vezes Deus já falou com você pela palavra, pela oração, por um livro, por uma música cristã, etc.? Deus sempre fala e, quando Ele se cala, há algo muito errado. Mas, Ele quer falar através de nós, da igreja. É através das nossas bocas que Ele quer comunicar o Seu Reino. A vida ou o testemunho pessoal fala, mas Jesus também quer que falemos com a boca. Ele nos chamou para sermos Suas testemunhas (Atos 1:8). Testemunha conta o que viu e ouviu, tem de abrir a boca e falar, comunicar o que está acontecendo em sua vida. 

“…prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não…” (II Tm. 4:2). A Palavra que salva sai através da mensagem falada; então, falemos em todo o tempo, a tempo e fora do tempo, para todas as pessoas que pudermos. É na Palavra que há edificação, crescimento. Quando comunicamos a Palavra de Deus sempre haverá crescimento. 

Mas, a pergunta é: Por que não temos falado tanto, comunicado tanto o Reino como deveríamos? Por que as nossas conversas são mais vãs do que santas? 

“Filho meu, atenta para as minhas palavras; aos meus ensinamentos inclina os ouvidos. Não os deixes apartar-se dos teus olhos; guarda-os no mais íntimo do teu coração. Porque são vida para quem os acha e saúde, para o seu corpo. Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida. Desvia de ti a falsidade da boca e afasta de ti a perversidade dos lábios. Os teus olhos olhem direito, e as tuas pálpebras, diretamente diante de ti. Pondera a vereda de teus pés, e todos os teus caminhos sejam retos. Não declines nem para a direita nem para a esquerda; retira o teu pé do mal” (Provérbios 4:20-27). 

Guardar o coração é a verdadeira chave da vida. O nosso problema não está na boca, é mais profundo. A fonte não é a boca, mas, sim, o coração. 

“Ou fazei a árvore boa e o seu fruto bom ou a árvore má e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore. Raça de víboras, como podeis falar coisas boas, sendo maus? Porque a boca fala do que está cheio o coração. O homem bom tira do tesouro bom coisas boas; mas o homem mau do mau tesouro tira coisas más. Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo; porque, pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado” (Mateus 12:33-37).

Jesus estabeleceu uma relação entre a árvore e o coração e questionou como pode uma árvore má produzir frutos bons, como pode uma pessoa falar coisas boas se o seu coração é mau, e concluiu dizendo que a boca fala do que o coração está cheio; falamos aquilo que temos no coração. Se são conversas fúteis, é porque o coração está cheio de futilidades. Muita gente enche diariamente suas mentes e corações de coisas inúteis e dessas coisas falam o dia todo. 

Jesus não tinha meias palavras, ele falava a verdade. A primeira vez que ele pregou em uma sinagoga, foi expulso e ainda quiseram matá-lo. A própria parentela de Jesus o chamava de lunático, porque ele falava as verdades que as pessoas não gostavam de ouvir; ele denunciava os corações dos homens, não poupava ninguém. Falava por amor e com amor, mas falava. Neste texto ele foi mais forte, chamando os homens de “raça de víboras” porque eles, além de não edificarem, ainda envenenavam os outros.

A linguagem, a comunicação é o que mais nos assemelha com o Criador. Deus fala conosco, nós refletimos e depois comunicamos, expressamos com a boca o que está dentro de nossas mentes e corações. E, talvez por isso também, colecionamos tantos pecados quando falamos. Existe uma coleção de pecados na Bíblia que são cometidos pela boca. Por isso, para vencê-los, o segredo é guardar o coração.

1. Pecamos quando falamos demais.

Falar demais não significa falar muito. Muitos, com apenas cinco minutos, conseguem falar demais. Aquele que não modera seus lábios é imprudente e néscio, tolo. Pessoas de coração inquieto falam demais.

“No muito falar não falta transgressão, mas o que modera os lábios é prudente” (Provérbios 10:19).

“Porque dos muitos trabalhos vêm os sonhos, e do muito falar, palavras néscias” (Eclesiastes 5:3).

2. Pecamos quando falamos palavras vãs, fofocas.

“Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno… Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo” (Mateus 5:37; 12:36).

“Não andarás como mexeriqueiro entre o teu povo; não atentarás contra a vida do teu próximo. Eu sou o SENHOR” (Levítico 19:16)

“As palavras do maldizente são doces bocados que descem para o mais interior do ventre” (Provérbios 18:8).

Um coração leviano produz palavras vãs, fofocas, maledicências. Fofoqueiro não é somente aquele que fala, mas também aquele que ouve. É um pecado que não se comete sozinho, mas precisa de alguém, de um cúmplice. Um fala mal, o outro escuta e deixa descer ao coração. Fofoca é algo tão maligno que “vende” muito através da mídia e os fofoqueiros parecem querer dizer que têm intimidade com as pessoas que estão sendo faladas. Dá “ibope” falar da vida dos outros. Quem ouve gosta, se alimenta daquilo, são “doces bocados”, como diz Provérbios. Muitos ferem a outros por meio da língua:

“Então, disseram: Vinde, e forjemos projetos contra Jeremias; porquanto não há de faltar a lei ao sacerdote, nem o conselho ao sábio, nem a palavra ao profeta; vinde, firamo-lo com a língua e não atendamos a nenhuma das suas palavras” (Jeremias 18:18).

“Além do mais, aprendem também a viver ociosas, andando de casa em casa; e não somente ociosas, mas ainda tagarelas e intrigantes, falando o que não devem” (1 Timóteo 5:13).

“Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem” (1 Pedro 4:15).

O sofrimento do intrometido não glorifica a Deus. Muita gente se intromete na vida de outros e depois fica destruído e se julgando perseguido. Isso não é perseguição, pois a pessoa é intrometida, coloca-se onde não é chamada e depois colhe os frutos dessa intromissão. 

3. Pecamos quando murmuramos. A murmuração revela um coração ingrato.

“Nem murmureis, como alguns deles murmuraram e foram destruídos pelo exterminador” (1 Coríntios 10:10).

4. Pecamos quando mentimos. A mentira encobre um coração soberbo. A pessoa soberba está sempre pronta para mentir, enganar, fingir, dissimular.

“Seis coisas o Senhor aborrece, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos” (Provérbios 6:16-19).

“Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor, mas os que agem fielmente são o seu prazer” (Provérbios 12:22).

“Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte” (Apocalipse 21:8).

5. Pecamos quando bajulamos. O coração fingido gera lábios bajuladores.

“Socorro, Senhor! Porque já não há homens piedosos; desaparecem os fiéis entre os filhos dos homens. Falam com falsidade uns aos outros, falam com lábios bajuladores e coração fingido. Corte o Senhor todos os lábios bajuladores, a língua que fala soberbamente, pois dizem: Com a língua prevaleceremos, os lábios são nossos; quem é senhor sobre nós?” (Salmos 12:1-4).

“A verdade é que nunca usamos de linguagem de bajulação, como sabeis, nem de intuitos gananciosos. Deus disto é testemunha” (1 Tessalonicenses 2:5).

6. Pecamos quando falamos impensadamente. Um coração irado dá lugar ao diabo, promovendo situações que ferem as pessoas.

“Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira. Não deis lugar ao diabo” (Efésios 4:26,27).

7. Pecamos quando falamos com incredulidade. Um coração incrédulo fala contra as coisas que Deus diz.

“Porém os homens que com ele tinham subido disseram: Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós. E, diante dos filhos de Israel, infamaram a terra que haviam espiado, dizendo: A terra pelo meio da qual passamos a espiar é terra que devora os seus moradores; e todo o povo que vimos nela são homens de grande estatura” (Números 13:31,32).

Isso acontece com relação à cura de enfermidades, salvação, vitória sobre pecados, etc. levando as pessoas a falarem contra o que Deus prometeu em Sua palavra. É muito comum algumas pessoas dizerem: “Eu tenho certeza que vou precisar operar”, “Tenho certeza que esse negócio não vai dar certo”, etc. É uma fé para o negativo, para o contrário do que a palavra de Deus diz. Isso sem falar das expressões: “A minha enfermidade”, “a minha dor”, “o meu problema”, etc. Se ainda é meu, então Jesus não levou com Ele para a cruz.

Nas horas de angústia e dor precisamos, mais do que nunca, guardar o coração e nos apegar às promessas do Senhor, àquilo que Ele falou e que está escrito. As promessas existem, mas temos de nos apossar das mesmas. Isso aconteceu com os espias que lemos em Números. Deus mandou que eles espiassem a terra pois a daria a eles, mas, ao chegarem lá e enxergarem os gigantes e as circunstâncias difíceis, voltaram dizendo o contrário do que Deus havia falado.

O mais trágico de ter um coração incrédulo é que acabamos ensinando às pessoas o contrário do que Deus falou, preceitos meramente humanos que não estão na Bíblia.

“Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mateus 15:7,8).

Se falarmos ou ensinarmos coisas que não estão na Bíblia, por mais santas que pareçam, são preceitos humanos. E, quando passamos a ensinar preceitos humanos no intuito de “guardar o povo”, para se guardar ou apenas para agradar as pessoas, significa que não cremos realmente no que Deus fala.

Lembro-me de uma reunião de líderes em minha casa, alguns anos atrás, quando comecei a ensinar os irmãos a corrigir os filhos. Havia um líder mais idoso, com os filhos já crescidos, que disse: “O que ele está falando não tem sentido, pois nunca corrigi meus filhos e eles são uma bênção”. Isso gerou uma situação complicada, pois ele falava o contrário do que eu estava ensinando. Então, inspirado pelo Espírito, disse aos meus líderes: “Olha, vocês não têm de me ouvir, mas decidam: ou vocês ficam com a Palavra, ou ficam com a experiência desse irmão. Quem quiser ficar com a experiência dele, fique; mas, quem quiser ficar com a Palavra, escute o que eu digo.” Anos depois, esse irmão começou a passar por problemas gravíssimos com seus filhos. Um deles era policial e foi preso por cometer um crime grave, sendo condenado a 56 anos de cadeia. Quando aquele jovem estava sendo levado preso, aquele pai começou a chorar e disse: “Onde foi que eu errei?” E eu tive de dizer a ele: “Todo pai erra, mas você, em especial, eu sei. Você disse naquela reunião que nunca corrigiu seu filho.”

“A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe” (Provérbios 29:15).

O filho entregue a si mesmo faz o que quer, não tem freios, não tem limites e despreza o que Deus fala.

Eu posso garantir a todos que já receberam o Senhor Jesus em seus corações que não precisam viver uma vida miserável. Só irá viver uma vida miserável aqueles se quiserem, pois o Espírito Santo nos dá condições de vivermos uma vida diferente do mundo; Ele nos dá poder para vivermos a Palavra.

Existe uma maneira muito especial de comungar, de ser cheio com o Espírito Santo:

“E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo” (Efésios 5:18-21).

Falando, entoando, louvando, dando graças e se sujeitando. Isso funciona para todos, pois recebemos uma nova natureza, Jesus vive em nós. Não precisamos ser escravos da língua, de um coração perverso e mau.

Existe uma lacuna muito grande entre o que nós somos em Cristo Jesus e o que nós vivemos em Cristo, e ela só existe porque não fazemos valer a vitória da cruz, não levamos a sério as coisas que Jesus conquistou para nós em Sua morte, o que já alcançamos pela fé. Dessa forma, não desenvolvemos uma nova vida, condizente com a nova natureza que Ele nos deu.

“E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Coríntios 5:17).

Pergunte-se: “Como deve ser a vida normal de uma nova criatura?” Comece a fazer uma limpeza em seu coração, jogue fora tudo que não procede da palavra de Deus, comece a ouvir a voz do Senhor em seu interior, aquilo que Ele está lhe ensinando. Preste atenção às coisas que você está falando e ensinando. É mentira, lisonja, bajulação, fofoca, murmuração, coisas demais? O que está saindo da sua boca? A partir desse entendimento você pode reconhecer o estado do seu coração, se arrepender e proceder uma limpeza interior com a ajuda e a força do Espírito Santo. Só assim podemos guardar o coração.

É ouvindo o que você fala que pode mudar suas práticas. Encha sua boca e seu coração com salmos e louvores, veja as situações ruins de outra forma e agradeça sempre ao Senhor por tudo! Amém!

No amor do Senhor Jesus,

Sérgio Franco ><>
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