A correção do Senhor nem sempre é aceita
Na carta aos Hebreus, capítulo 12, há várias verdades sobre a correção do Senhor:
v. 5 – Nesse versículo vemos que podemos reagir à disciplina do Senhor de forma errada, menosprezando-a ou permitindo, por causa da nossa autocomiseração, sermos esmagados por ela, nos enfraquecendo a ponto de desanimarmos, perdendo a esperança. Em outras palavras, podemos nos vitimizar ante a disciplina.
vs. 6 a 9 – A disciplina de Deus é um ato de amor Divino e um privilégio que só os filhos de Deus possuem.
v. 10 – A disciplina do Nosso Pai visa nos incluir, nos fazer participantes da Sua santidade.
v. 11 – Quando sofremos uma disciplina, a tristeza é o sentimento inicial, entretanto, ao receber de coração esta disciplina e nos deixarmos ser exercitados por ela nas práticas corretas, os frutos nos trarão, além da justiça, outro sentir.
Resumindo, nós podemos reagir à disciplina de Deus. Quando as reações são erradas, podemos até nos encher com a raiz de amargura e terminar contaminando os que estão próximos a nós. Já quando recebemos a disciplina do Senhor como filhos amados, crescemos, nos tornamos participantes da Sua santidade e alcançamos frutos pacíficos de justiça para a glória do Nosso Pai.
Há outras passagens bíblicas que afirmam a possibilidade do homem resistir à correção do Senhor:
“Bem-aventurado é o homem a quem Deus disciplina; não desprezes, pois, a disciplina do Todo-Poderoso” (Jó 5:17).
“Em vão castiguei os vossos filhos; eles não aceitaram a minha disciplina; a vossa espada devorou os vossos profetas como leão destruidor” (Jeremias 2:30 )
“Eu dizia: certamente, me temerás e aceitarás a disciplina, e, assim, a sua morada não seria destruída, segundo o que havia determinado; mas eles se levantaram de madrugada e corromperam todos os seus atos” (Sofonias 3:7).
“E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor” (Efésios 6:4).
Muitas vezes julgamos a validade de uma disciplina com base nos resultados que ela produz. Entretanto, nem sempre uma disciplina válida e justa produz os resultados desejados. Precisamos considerar que a correção aplicada diretamente por Deus, que nunca erra, às vezes não produz o resultado desejado, pois o homem pode rejeitá-la. Sendo assim, por que nós esperamos que o irmão em Cristo ou o filho em casa irá sempre receber a correção quando esta é aplicada por meio dos pais ou da igreja?
- Leia também: Disciplina na igreja? Pra quê?
A disciplina não é um ato pragmático, mas uma ação de amor com expectativas em Deus. Quando aplicamos com mansidão esperamos a libertação espiritual daquele que se desviou da verdade.
“disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade” (II Timóteo 2:25-26).
Portanto, não devemos abandonar a correção porque não estamos vendo o resultado esperado. Nós não corrigimos por causa do resultado, mas por que amamos e queremos ver o faltoso livre dos laços que o prendem.
Com relação à disciplina do Senhor através da igreja ou da autoridade dos pais, todos nós já fomos advertidos e ensinados que um filho pode menosprezar a correção. Que um irmão pode abraçar a “vitimização” como arma de defesa do seu próprio orgulho. Portanto, não podemos ser pragmáticos quanto a isso, ou seja, não devemos crer que a disciplina só é bíblica se funciona. A nossa experiência ruim não muda a verdade de Deus. Haverá um momento em que aqueles que não recebem a disciplina, serão entregues à própria sorte. Ficarão “ligados” ao próprio pecado. Pois se eles amam mais o pecado do que a Deus, a resposta do Senhor para a obstinação destes amados será esta:
“Mas o meu povo não me quis escutar a voz, e Israel não me atendeu. Assim, deixei-o andar na teimosia do seu coração; siga os seus próprios conselhos” (Salmos 81:11-12).
Entretanto, isso não é uma rejeição da parte do Senhor. Quando Ele entrega o homem ao seu próprio coração, é porque o coração desse homem está divido. Ele está olhando para fora, à semelhança daquele filho mais novo da parábola do “filho pródigo”. Deus deixa o filho ir para que possa um dia resgata-lo por inteiro.
O mesmo ocorre com a igreja quando ela “liga” o faltoso ao seu próprio pecado, por ele não querer se arrepender, mesmo depois de repreendido várias vezes, particularmente, entre dois ou três e até publicamente. Isso não é uma “rejeição” como vários protestam. O desejo da igreja é “desligar” o homem daquele pecado e por isso, ela espera pacientemente o arrependimento genuíno daquele irmão querido. Em geral, uma igreja que pratica a disciplina, só o faz, por obediência ao Senhor. Leva-se um tempo até um presbitério assimilar e ensinar a igreja esta expressão de amor.
“Se teu irmão pecar [contra ti], vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão.
Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça.
E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano.
Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus” (Mateus 18:15-18).
Quando alguém não se arrepende do seu pecado e, ao ser disciplinado permanece nele, a igreja o considera “gentio e publicano”, deixando-o “ligado” ao pecado. Porém, ao sair daquele contexto, essa pessoa encontra uma outra congregação que a acolhe sem checar sua vida pregressa, sem ouvir o último pastor que cuidou dela, ficando apenas com as suas declarações que acusa a antiga congregação de não amá-la e por isso se tornou uma “vítima”. Se a congregação a “acolhe” sem um trato genuíno, estará correndo vários riscos.
Os pastores estarão expondo as ovelhas de Jesus ao perigo, pois na verdade o pecador não arrependido levará o seu pecado, pois está “ligado” a ele, para dentro desta nova congregação que o aceitou sem tratar com ele e sem ouvir os pastores anteriores que trataram com ele. Esse nosso orgulho ministerial muitas vezes destrói a obra de Deus. Pois se o “irmãozinho” for um pervertido sexual, poderá inclusive contaminar e destruir a vida de alguns irmãos vinculados. Se ele furta, quando houver oportunidade furtará novamente. Se ele faz fofoca da vida alheia, certamente levará muitos problemas para dentro da “nova congregação”. Em suma, não atentar para esta verdade é arrumar encrenca feia.
Quando recebemos uma pessoa e nos emocionamos com a sua vitimização e discurso de que a igreja não ama, deixando assim de ouvir o outro lado para julgar a causa, nós pastores, expomos toda a congregação ao pecado daquela pessoa que veio ligada a ele. Não é em vão que Deus se alegra mais do que um pastor que encontra a sua ovelha perdida, mais do que a mulher que acha a sua dracma ou ainda mais do um pai que recebe seu filho de volta, quando UM PECADOR SE ARREPENDE.
- Leia também: “Deus não rejeita as pessoas”.
Nós não devemos desistir da correção, pois Deus tem um caminho que vai além da vara da disciplina. Ele ouve as nossas orações.
Cada correção deve ser aplicada com mansidão e humildade, uma vez que não somos melhores do que os nossos filhos (biológicos ou espirituais).
Não devemos desistir de amar nossos filhos, mesmo que o orgulho deles os levem a menosprezar a disciplina ou se vitimizarem por causa dela. Não devemos mudar a doutrina de Deus por não vermos os resultados do nosso amor na vida dos nossos filhos amados.
Muitos pais quando perdem seus filhos para o mundo, acabam negociando seus valores e princípios com a desculpa de acolher seus filhos. Penso que foi por isso também que Jesus incluiu os filhos nos “termos do discipulado” (Lucas 14:26), ou seja, precisamos aborrecer os nossos filhos para seguir a Jesus e não aceitarmos os rudimentos do mundo para justificar as ações pecaminosas deles. Isso não é amor. É desprezo pelo filho. Isso é amor próprio. Algumas vezes aceitamos até que os nossos filhos falem mal da igreja, pois para o nosso orgulho é mais fácil admitir que foi a igreja que falhou com eles do que nos HUMILHARMOS quebrantados diante do Senhor em oração.
“O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina” (Provérbios 13:24).
“Sabe, pois, no teu coração, que, como um homem disciplina a seu filho, assim te disciplina o SENHOR, teu Deus” (Deuteronômio 8:5).
“Porque o mandamento é lâmpada, e a instrução, luz;e as repreensões da disciplina são o caminho da vida” (Provérbios 6:23).
“Quem ama a disciplina ama o conhecimento, mas o que aborrece a repreensão é estúpido” (Provérbios 12:1).
“Disciplina rigorosa há para o que deixa a vereda, e o que odeia a repreensão morrerá” (Provérbios 15:10).
“O que rejeita a disciplina menospreza a sua alma, porém o que atende à repreensão adquire entendimento” (Provérbios 15:32).
“A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela” (Provérbios 22:15).
“Não retires da criança a disciplina, pois, se a fustigares com a vara, não morrerá” (Provérbios 23:13).
“A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe” (Provérbios 29:15).
“Aceita a disciplina, ó Jerusalém, para que eu não me aparte de ti; para que eu não te torne em assolação e terra não habitada” (Jeremias 6:8).
“Dir-lhes-ás: Esta é a nação que não atende à voz do SENHOR, seu Deus, e não aceita a disciplina; já pereceu, a verdade foi eliminada da sua boca” (Jeremias 7:28).
“Mas não atenderam, não inclinaram os ouvidos; antes, endureceram a cerviz, para não me ouvirem, para não receberem disciplina” (Jeremias 17:23).
“Não atende a ninguém, não aceita disciplina, não confia no SENHOR, nem se aproxima do seu Deus” (Sofonias 3:2).
“SENHOR, na angústia te buscaram; vindo sobre eles a tua correção, derramaram as suas orações” (Isaías 26:16).
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (II Timóteo 3:16).
Em Cristo,
Sérgio Franco
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