Ensino

“Dízimo? O que eu tenho a ver com isso?”

Já fui questionado pela internet sobre minha posição acerca do dízimo. Hoje, estive lendo novamente uma resposta antiga à essa pergunta, e considerei oportuno atualizá-la para publicar aqui no Conexão Eclésia.

Devido às polêmicas que envolvem o tema, estou consciente que não posso dar uma resposta simplista. Ao mesmo tempo, não pretendo ser exaustivo ao abordar o tema, até mesmo porque não é possível esgotar o assunto no curto espaço de um post. Por esta razão, a resposta está organizada em 11 apontamentos sobre o que creio acerca do dízimo. Considero que a fundamentação dada a esses apontamentos, mesmo não esgotando o assunto, são suficiente para iniciar uma conversa sobre o tema.

1. Dízimo é um mandamento da Lei de Moisés, contudo esta apenas consagrou e tornou obrigatória uma prática que lhe era anterior.

Antes que fosse um mandamento da Lei, tanto Abraão quanto Jacó entregaram dízimos.

2. O Novo Testamento faz referência ao dízimo em apenas três ocasiões.

A primeira referência está na parábola do fariseu e do publicano, onde o fariseu diz: “dou o dízimo de tudo quanto ganho” (Lc. 18:12). Na segunda, Jesus diz que os fariseus entregavam os dízimos da hortaliças mas negligenciavam os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Eles deveriam entregar os dízimos sem esquecer desses preceitos (Mt. 23:23; Lc. 11:42). A terceira ocasião é em Hebreus 7:1-9, onde é dito que Abraão entregou dízimo a Melquisedeque. Como podemos ver, em nenhuma dessas referências vemos o dízimo sendo apresentado como um mandamento para os cristãos.

3. No Novo Testamento não há nenhum mandamento dado aos cristãos acerca do dízimo, e também não há nenhum registro de que a igreja entregava dízimos.

4. Apesar de não trazer nenhum mandamento a respeito do dízimo, o Novo Testamento é claro e cheio de orientações sobre o dever de contribuição financeira dos cristãos.

Abaixo estão apenas alguns exemplos:

a) II Co. 8 e 9 – instruções quanto à coleta em favor dos cristãos pobres da Judéia.

b) II Tm. 5:3-16 – instruções de Paulo a Timóteo quanto ao auxílio, por parte da igreja local, às viúvas necessitadas. Esse tipo de auxílio demanda contribuição regular por parte dos discípulos ligados à igreja local.

c) I Co. 9:8-14 – Paulo fala sobre a honra e o sustento dos que se dedicam integralmente à pregação do Evangelho, o que também demanda contribuição regular e periódica por parte dos discípulos. “… o Senhor ordenou àqueles que pregam o evangelho, que vivam do evangelho” (I Co. 9:14).

d) Por razões muito específicas, Paulo, ao servir às igrejas de Corinto e Tessalônica, não foi sustentado por essas comunidades. Contudo, aos coríntios ele mesmo diz que foi sustentado por outras igrejas: “Despojei outras igrejas, recebendo delas sustento, a fim de servi-los. Quando estive entre vocês e passei por alguma necessidade, não fui um peso para ninguém; pois os irmãos, quando vieram da Macedônia, supriram aquilo de que eu necessitava” (II Co. 11:8,9). Antes de chegar o sustento por parte dos irmãos da Macedônia, Paulo se sustentava fazendo tendas. Contudo, ao chegar a oferta, Paulo se dedicou integralmente à pregação. O livro de Atos relata que Paulo, em sua estada em Corinto, se juntou à Áquila e Priscila “uma vez que tinham a mesma profissão, ficou morando e trabalhando com eles, pois eram fabricantes de tendas. … Depois que Silas e Timóteo chegaram da Macedônia, Paulo se dedicou exclusivamente à pregação” (At. 18:3-5).

e) Em sua carta dos Filipenses, Paulo agradece à contribuição ofertada por essa igreja: “E bem sabeis também, ó filipenses, que, no princípio do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja comunicou comigo com respeito a dar e a receber, senão vós somente; Porque também uma e outra vez me mandastes o necessário a Tessalônica. Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que cresça para a vossa conta. Mas bastante tenho recebido, e tenho abundância. Cheio estou, depois que recebi de Epafrodito o que da vossa parte me foi enviado, como cheiro de suavidade e sacrifício agradável e aprazível a Deus. O meu Deus, segundo as suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus” (Fp. 4:15-19).

d) O próprio Paulo dá a seguinte orientação à Timóteo: “Os presbíteros que lideram bem a igreja são dignos de dupla honra, especialmente aqueles cujo trabalho é a pregação e o ensino, pois a Escritura diz: ‘Não amordace o boi enquanto está debulhando o cereal’, e ‘o trabalhador merece o seu salário'” (I Tm. 5:17,18). Fica claro que Paulo está falando sobre honra financeira ao ensinar que os presbíteros que lideram bem devem ser merecedores de dupla honra. E, para que os presbíteros sejam honrados assim, é necessário que haja contribuição regular e periódica por parte dos discípulos.

5. No Novo Testamento, a contribuição dos cristãos à igreja local se destina, principalmente, à ajuda aos necessitados e sustento dos que se dedicam a pregar o Evangelho. 

I Timóteo 5:17,18 e II Timóteo 5:3-16

6. Apesar de ser dever dos discípulos contribuírem para o sustento dos obreiros (pastores, missionários etc.), estes devem trabalhar por amor ao Senhor e às ovelhas, por consciência e convicção do chamado, independentemente de qualquer retorno financeiro.

O trabalho deve prosseguir na escassez e na abundância. Paulo ensina isso, quando diz: “Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece” (Fp. 4:12-13). Além disso, Pedro deixa a seguinte advertência aos pastores: “Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto” (I Pe. 5:2).

7. O mandamento quanto à contribuição dos cristão não é o dízimo, mas é a generosidade e a liberalidade.

Vemos que os cristãos primitivos enxergavam a contribuição financeira, seja para ajuda aos pobres, seja para honra aos obreiros, como um dever e honra ao próprio Deus.

“Recebi tudo, e o que tenho é mais que suficiente. Estou amplamente suprido, agora que recebi de Epafrodito os donativos que vocês enviaram. Elas são uma oferta de aroma suave, um sacrifício aceitável e agradável a Deus” (Fp. 4:18).

8. A liberalidade e a generosidade ultrapassam o dízimo. 

Entregar dízimos nunca foi sinônimo de generosidade. Os fariseus eram fiéis na entrega dos dízimos, mas ainda assim eram avarentos (Lc. 16:4). A nossa justiça, enquanto discípulos de Jesus, deve exceder a dos fariseus (Mt. 5:20).  Paulo faz um alerta aos Coríntios dizendo que as contribuições devem ser expressão de generosidade, e não de avareza (II Co. 9:5).

9. Deixar de entregar o dízimo sob a alegação de que o Novo Testamento não diz nada sobre o assunto pode ser uma tentativa de disfarçar um coração avarento. 

A oferta da viúva pobre foi destacada por Jesus. Mas, infelizmente, muitos estão deixando de entregar o dízimo não para se aproximarem da atitude da viúva pobre, mas para ficarem aquém dos fariseus.

10. O dízimo pode ser tratado como uma referência.

A partir dessa referência podemos estabelecer outras quantias para contribuição financeira.

11. Em minha administração financeira separo um percentual para contribuição, e procuro estar atento às necessidades especiais que podem demandar ofertas extraordinárias. 

Através desses 11 apontamentos espero ter esclarecido o meu posicionamento sobre o dízimo. Sei que nem todos concordam comigo. Mas, não temos como fugir da realidade que contribuir para a igreja local é um dever de cada discípulo. E nisso devemos agir com generosidade. Não tem relevância se chamamos essa contribuição de dízimo ou outro nome qualquer. O mandamento é o de que nossa contribuição seja generosa.

Meu desejo e oração é no sentido de que o Senhor nos dê graça e sabedoria para lidar com nossas finanças. Que tenhamos corações ricos em generosidade, não dando espaço para ser dominado pelo dinheiro, pois ninguém pode servir ao Senhor e às riquezas.