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Talvez Silas Malafaia ainda não tenha entendido isso.

Não estou aqui para acusar Silas Malafaia, nem tampouco para defendê-lo. Sendo culpado ou inocente, ainda há toda uma investigação a ser realizada e, a depender do resultado, ele poderá ou não se tornar réu. Por enquanto, o que existe são indícios de que Silas teria recebido dinheiro de origem duvidosa.

Silas Malafaia já apresentou seus argumentos de defesa. Chegou a mostrar seu extrato bancário em seu programa de TV e exibiu um vídeo de 2013, onde ele narra para sua congregação o recebimento de uma oferta de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Silas alega que, se soubesse que o dinheiro tinha origem ilícita, não teria contado como testemunho publicamente.

Para um cristão, as alegações de Silas são verossímeis, pois descrevem situações possíveis de acontecer. Sabemos que qualquer pastor ou pessoa que se dedica a servir à igreja pode receber ofertas pessoais. Entre cristãos, uma oferta pessoal pode ser uma expressão de gratidão, ou até mesmo um investimento ou apoio àqueles que se dedicam ao Evangelho. Afinal, como Paulo disse: “Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho” (I Coríntios 9:14). O próprio Senhor Jesus recebia ofertas pessoais. Havia um grupo de mulheres que ajudavam a sustentá-lo com seus bens (Confira o post: Por que Jesus aceitou ser sustentado por mulheres?).

Jesus, ao enviar pela primeira vez seus discípulos a pregar, ordena o seguinte: “… comam e bebam o que lhes derem, pois o trabalhador merece o seu salário (Lc. 10:7). Paulo, ao falar sobre o sustento dos presbíteros, usa o mesmo princípio: “Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino. Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: “O trabalhador é digno do seu salário.” (I Timóteo 5:17,18)

Diante desses textos, o simples fato de Silas Malafaia receber uma oferta não o reprova à luz da Bíblia. Alguém pode alegar que o que é reprovável é o valor da oferta, pois seria imoral um pastor receber R$ 100.000,00. Ora, precisamos lembrar que, ao declarar “tudo posso naquele que me fortalece”, Paulo estava incluindo tanto o passar pela escassez quanto o estar em abundância:

“Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece.” (Filipenses 4:11-13)

Se as alegações de Silas Malafaia são verdadeiras, se tudo ocorreu conforme o narrado por ele, ninguém pode condená-lo à luz da Bíblia. Embora haja muitos pontos teológicos em que não concordo com ele, isso não me autoriza a condená-lo se suas alegações forem verdadeiras. E espero que realmente sejam.

Porém, inocente ou culpado, talvez haja uma verdade que Silas ainda não tenha compreendido. Digo isso com temor e tremor, pois não sou melhor do que ele, e facilmente posso me esquecer dessa verdade, se a graça de Deus não me sustentar nela.

Embora eu não possa afirmar isso com certeza, as reações de Silas Malafaia demonstram que esse irmão ainda não entendeu a verdade de que Deus quer nos conformar à imagem do Seu filho, Jesus. Fomos chamados para andar como Jesus andou, seguindo seus passos e refletindo sua imagem (caráter) ao mundo.

Jesus foi vítima de uma condução coercitiva injusta. Contudo, Ele não foi gritando ou berrando. Jesus foi como ovelha muda ao matadouro. Quando questionado por Pilatos, respondeu com serenidade e segurança: “Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada; por isso, quem me entregou a ti maior pecado tem.” (João 19:11). O Mestre sofreu acusações injustas, mas não revidou e apenas entregou-se ao que julga retamente:

“pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente.” (I Pedro 2:23)

Se entendêssemos plenamente o propósito de Deus para nós, de nos conformar à imagem de Jesus (Romanos 8:28,29), enxergaríamos a injustiça que sofremos por outra ótica e reagiríamos com confiança em Deus.

Não estou aqui para condenar ou absolver Silas. Não quero atirar pedras em ninguém. É muito fácil esquecermos do nosso chamado. Qualquer um de nós pode perder o foco. Precisamos da graça de Deus e da ação do Espírito Santo para sermos transformados, de glória em glória, na imagem do Senhor. (II Coríntios 3:18)

Por fim, quero deixar aqui as seguintes palavras:

“Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente, carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados.” (I Pedro 2:21-24)

“Aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou.” (I João 2:6)

Em Cristo,
Anderson Paz