Reflexões

Escolhi Esperar a morte

Li e ouvi, recentemente, na internet uma afirmação sobre casamento que muito me perturbou. Tratava-se da ideia de que a pessoa casada que “crê” ter errado em sua escolha de cônjuge precisa “esperar em Deus” até que seu marido, o então fruto da escolha errada, morra. Dessa forma, a pessoa estaria livre para escolher a tal “pessoa certa”. É estarrecedor ler e ouvir essa ideia. Pois, quando medito na Palavra de Deus, vejo uma ideia completamente diferente do que é amor e do que é casamento.

Começarei avaliando uma das causas mais difíceis de resolver em problemas conjugais, o jugo desigual. A mulher ou homem que se convertem a Jesus não devem se separar do cônjuge não convertido, caso esse aceite viver com alguém convertido. Pois, o cônjuge cristão santifica o que não é (1 Co 7. 13, 14). Sendo assim, não vemos em momento algum Paulo dizendo aos que “sofrem” com um marido/esposa descrente que eles devem pedir divórcio, ou algo parecido. Sabemos que morte, significa separação. E, uma expectativa de morte do cônjuge, significa que a pessoa que sofre deseja uma separação. Em relação a esperar a morte do cônjuge, a ideia transmitida é que tal atitude é aprovada por Deus. Agora, irmãos, se Paulo diz aos que possuem cônjuge descrente, que eles não devem se divorciar (algo que aconteceria na vida terrena), que dirá almejarem a morte um do outro, uma separação eterna. O que se “esperaria”, nesse caso, é que a solução para um problema conjugal agudo seria a morte do cônjuge que provoca o sofrimento no casamento. Imagine alguém que ama, que se comprometeu diante de Deus estar com o cônjuge na alegria, tristeza, pobreza, riqueza, etc. Em seu interior, esperando que o outro morra para a partir desse momento, escolher outra pessoa. No fundo, se alguém casado espera isso, já não quis outra pessoa em seu coração? Como esperar “em Deus” a morte de alguém, sabendo que Deus é amor?

E ainda podemos ler na Bíblia, que “o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta…” (I Co. 13:7). Portanto, não devemos excluir algumas coisas. Tudo significa, de fato, todas as coisas. Não posso dizer que amo alguém com o amor de Deus e esperar a morte desse alguém. Sérgio Franco, um dos meus pastores, tem uma observação pertinente sobre esse assunto:

“Muitas mulheres até chegam a orar para que seus maridos morram, sem entender o real propósito de Deus: conformar-nos a imagem do Senhor Jesus. Ele é soberano, se quiser tirar alguma carga da nossa vida, tirará, porém os nossos corações não devem hospedar um sentimento de rejeição. Deus odeia o repúdio. Repudiar vem antes de divorciar”.

Mas, a primeira pessoa a nos ensinar sobre casamento, apesar de nunca ter se casado, nos ensina, com sua vida, como marido e mulher devem se tratar. Cristo foi quem morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Ele não esperou nossa morte, para fazer outra humanidade que lhe servisse e que lhe agradasse. Ele escolheu sim, morrer por gente caída, pecadora, escolheu sofrer, escolheu “trabalhar” (Is 53.11) por nós a fim de se reaproximar da gente. Ele nos escolheu desde antes da criação do mundo, mesmo sabendo quem seríamos. Ele escolheu morrer e assim nos mostrou o que devemos fazer por nosso próximo, seja o nosso cônjuge, os nossos amigos ou a humanidade. Devemos desejar a morte sim, mas a do nosso Eu, da nossa vontade, para assim cumprirmos nosso propósito: sermos agradáveis a Deus em nosso viver. Que todo sentimento de rejeição ao próximo dentro de nós tenha apenas um alvo, a morte. A NOSSA morte.

 Ana Carolina de Assis Brum Pires
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