Viver a morte, morrer na vida
Em certa ocasião da vida de Jesus, enquanto estava em Jerusalém nos dias que antecederam sua crucificação, alguns gregos foram até os apóstolos dizendo: “queremos ver Jesus”. Ao saber que os gregos estavam à sua procura, Jesus fala algo que soa um tanto estranho, pois parece não se coaduna com sua postura e seu ensino de nunca buscar a glória dos homens. Jesus diz: “É chegada a hora de ser glorificado o Filho do Homem” (João 12:23). Alguém, ao ouvir isso, poderia ter pensado: “Que coisa estranha. Jesus diz que não devemos buscar a glória dos homens, mas ele se alegra em saber que os gregos estão à sua procura. Será que ele busca a glória que vem dos gregos?”.
Ora, se não prosseguirmos para a leitura dos versículos seguintes, teremos uma compreensão equivocada sobre o que Jesus realmente disse, pois ali Ele afirma: “Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto” (João 12:24).
Pode parecer estranho, mas Jesus responde ao convite falando sobre sua morte e o resultado da mesma. De fato, Jesus foi o grão de trigo que morreu e deu muitíssimo fruto. Se ele estivesse preocupado em receber a glória por parte dos gregos, talvez alcançasse a fama, mas apenas isso, e ficaria só. Mas por renunciar à glória dos homens, por se entregar na cruz, Ele não ficou só. Ao longo de séculos, gerações e gerações têm se achegado a Ele. Multidões têm sido marcadas por Seu amor, tão somente porque Ele decidiu ser o grão de trigo que morre e dá frutos. A morte não foi um acidente na vida de Jesus. Ele deliberadamente decidiu viver a morte.
Precisamos observar que quando Jesus falou sobre o grão de trigo, ele não estava falando apenas sobre a própria morte, mas estava ensinando um princípio a ser vivido por quem O segue: se não viver a morte, estará solitário. Apenas com a morte há frutificação. Mas em termos práticos, o que quer dizer essa morte? Ora, se o resultado da falta de morte é a solidão, e solitário é aquele que busca seus próprios interesses (Provérbios 18:1), pode-se afirmar que quem não morre é quem vive em função de si mesmo, das próprias vontades, desejos e interesses. Morrer é assumir os interesses de Deus e dos outros. E essa é a morte para a vida, é a morte para frutificar.
- É possível amar como Jesus?
Embora quando falamos dessa morte pensemos em eventos dramáticos, em renunciar algo de grande valor, na verdade essa morte precisa ser vivenciada no dia-a-dia, nas pequeninas coisas. Foi assim que nosso Senhor nos ensinou. A morte de Jesus não foi um evento isolado na crucificação. A cruz foi o ponto que consumou uma morte que Jesus vivenciava a cada dia: pensava no interesse dos outros, se dedicava a servir, a fazer o bem, a deixar seu conforto e bem-estar em favor de seu próximo. Esse é o nosso Senhor. Amado Jesus. E nós temos sido chamados a seguir seus passos, a andar nas suas pisadas (I Pe. 2:21; I Jo. 2:6).
Você está seguindo nos passos do Senhor? Decida hoje seguir nesses passos, decida viver a morte. Exercite-se em morrer para sua própria vida, para viver a vida que Deus tem pra você.
Em Cristo,
Anderson Paz
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