Simplicidade: como é fácil complicá-la!
Há alguns anos, numa conversa com duas testemunhas de Jeová, fui inspirado a refletir na simplicidade do Evangelho de Jesus e a forma como nós muitas vezes tentamos complicá-la.
Ao iniciar o bate-papo, por ter certa experiência em conversas com pessoas desse grupo religioso, já estava à espera do tema que iriam abordar, pois a partir daí eu já poderia inferir qual seria o próximo passo deles. Naquele dia, me perguntaram se eu cria na imortalidade da alma. Diante da pergunta, imediatamente pensei nos textos que eles provavelmente usariam para me refutar, caso minha resposta fosse sim. Quando respondi que cria que na imortalidade da alma humana, logo usaram o texto de Eclesiástes 9:5 (“Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, mas a sua memória fica entregue ao esquecimento”).
Eu poderia levar a diante a discussão sobre o tema. Mas, depois de refletir por um momento, decidi seguir outro caminho. Assim que eles usaram o versículo, apenas respondi que, ainda que eu estivesse equivocado em minha crença na imortalidade da alma, de uma coisa eu estava seguro: no dia da ressurreição dos que estão em Cristo, eu quero estar entre eles, e passar a eternidade com o Senhor (I Ts. 4:13-18). Contudo, a salvação não nos é assegurada por sabermos o que ocorre entre a morte e a ressurreição. Podemos ter o conhecimento certo sobre o “Estado Intermediário” e ainda assim nos perder.
Somos salvos quando temos Jesus como Senhor (Rm. 9:9,10), e precisamos viver de forma coerente com essa decisão (“Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?” – Lc. 6:46). Saber sobre o “Estado Intermediário” pode até ter sua importância, mas meu esforço deveria se concentrar em saber e praticar todas as coisas que Jesus ordenou, uma vez que só assim posso construir minha casa sobre a rocha (Mt. 7:24-27).
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Estou mais preocupado em perdoar os que me ofendem, orar pelos que me perseguem e amar os meus inimigos do que saber sobre o Estado Intermediário. Quero praticar, com simplicidade, aquilo que está claro na Bíblia, e buscar entender o que não parece tão claro. Mas, quanto ao que é incompreensível, me limito a Dt. 29:29 – “As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei”. Somos indesculpáveis diante das coisas reveladas.
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Os TJ’s não esperavam minha resposta. Ainda tentaram manter a conversa, mas não houve mais argumentos. E, depois de nos desperdirmos, fiquei a pensar como é fácil, mesmo que não criemos heresias como as das TJ’s, concentrarmos a nossa atenção, esforço, empenho, naquilo que é secundário, e deixarmos de lado o que é de fundamental importância. Por que é tão difícil reconhecer que não temos respostas para tudo? E que, em alguns casos, nem poderemos ter. Esse tipo de atitude das TJ’s, e que alimenta essa heresia, encontra-se tambem espalhada por grupos cristãos. Não são poucas as vezes em que lutamos pelo que é de menor importância e nos dividimos pelo que é secundário. É tão fácil fazer das coisas de menor importância um verdadeiro objeto de guerra, e assim nos afastamos da simplicidade e da clareza da mensagem de Jesus.
É preciso que, com humildade e quebrantamento, nos voltemos à sublime, surpreendente e maravilhosa simplicidade do Evangelho de Jesus Cristo. E com a graça de Deus precisamos perseverar nos passos do Senhor.
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