Reflexões

Consumistas da boa teologia

O risco de ser um “consumista da boa teologia”

Não é difícil encontrar gente que, movida por seu coração consumista, tenta fazer de Deus um meio para se enriquecer. Esse é o tipo de gente que é atraída por uma teologia que promete riquezas, gente que faz de sua fé uma moeda no mercado religioso, cercando-se de mestres segundo suas próprias cobiças. A estes, só tenho a dizer o que Paulo disse a Timóteo: “Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” (I Timóteo 6:9,10).

Meu propósito com este post não é falar da chamada “Teologia da Prosperidade”. Sobre isso, já há muitas pessoas falando e escrevendo, e não faltam blogs em que seus autores derramam sua tristeza e indignação com essa mensagem nociva. Pretendo abordar aqui um outro aspecto do consumismo religioso. Não quero falar daqueles que seguem Jesus por dinheiro, saúde, milagres ou por comida.

Quero falar de um consumismo ao qual nem sempre se dá a devida atenção, e é tão nocivo quanto à busca por riquezas. Penetra no meio da Igreja de forma sorrateira. Falo daqueles que, em seu discurso, estão em pleno acordo com o conteúdo do Evangelho, mas seus passos não seguem os de Jesus. São consumistas da Palavra, da verdade, da doutrina, da boa teologia.

O surgimento desse tipo de consumista não é um fenômeno moderno. Já havia muitos deles entre os que ouviam o profeta Ezequiel:

“Quanto a ti, ó filho do homem, os filhos do teu povo falam de ti junto aos muros e nas portas das casas; fala um com o outro, cada um a seu irmão, dizendo: Vinde, peço-vos, e ouvi qual é a palavra que procede do SENHOR. Eles vêm a ti, como o povo costuma vir, e se assentam diante de ti como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois, com a boca, professam muito amor, mas o coração só ambiciona lucro. Eis que tu és para eles como quem canta canções de amor, que tem voz suave e tange bem; porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra. Mas, quando vier isto e aí vem, então, saberão que houve no meio deles um profeta” (Ezequiel 33:30-33).

Esse consumista busca a Palavra para alimentar sua sensação de que conhece a verdade, de que tem a razão, de que seu conhecimento doutrinário é o certo. Essa sensação lhe é muito agradável e alimenta um desejo carnal. Sentir que tem a razão deixa o seu ego inflado. Trata-se de gente que tem habilidade com as Escrituras, contudo não as experimentam na vida. São pessoas que se iludem ao pensarem que, por saberem da verdade, estão bem alimentados. Ignoram que nos alimentamos quando praticamos a Palavra – “Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (João 4:34).

A esses consumistas da boa teologia, o salmista também já havia dito: “Mas ao ímpio diz Deus: De que te serve repetires os meus preceitos e teres nos lábios a minha aliança, uma vez que aborreces a disciplina e rejeitas as minhas palavras?” (Salmo 50:16,17).

Ser tolerante com esse tipo de consumo é tão nocivo quanto tolerar o “Evangelho” da prosperidade. Tiago já nos alertava: “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tiago 1:22). E as palavras de Jesus são claras e não deixam dúvidas quanto ao destino desses consumistas:

“E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína” (Mt.7:27-28).

É tempo de arrependimento para todos aqueles que se declaram cristãos e não têm compromisso em viver a Palavra. A pergunta de Jesus precisa ser respondida com honestidade: Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?” (Lucas 6:46).