A escravidão da “segurança”
Em certo momento de sua caminhada no deserto, o povo de Israel murmurou contra Moisés por não ter outra coisa para comer além do maná. Diziam que no Egito, apesar de sofrerem a escravidão, eles supostamente se alimentavam melhor (Nm. 11:4-6).
Ao refletir sobre esse momento da história de Israel, penso que a verdadeira razão para reclamarem não era devido à qualidade da comida no Egito, mas sim porque enquanto eram escravos a vida era mais previsível. Eles reclamavam por acreditarem que a escravidão no Egito lhes oferecia uma “segurança” maior do que a que eles experimentavam na liberdade. Afinal, no Egito podiam ver as sementes e as plantações de onde seria retirado o seu alimento. Podiam ver também os celeiros e os depósitos. Contudo, ao caminhar pelo deserto, teriam que confiar na palavra que o Senhor lhe havia dito, que a cada manhã lhes enviaria o maná. Não teriam como plantar, colher e estocar, mas apenas recolher um alimento que aparecia a cada manhã. E só podiam colher a quantidade de maná correspondente à alimentação por um dia. O maná guardado estragava. Para aquele povo, isso dava a sensação de que seu futuro não estava em suas mãos. E essa sensação é extremamente desconfortável para muitos.
Acredito que o povo de Israel era escravo da “segurança” pois, mesmo alertados por Moisés a não guardarem o maná, algumas pessoas guardaram (Êx. 16:19-20). Eles desconfiavam da promessa de que a cada manhã haveria comida, e por isso muitos desejavam voltar ao Egito. Preferiam as dores da escravidão, e dessa forma garantir o seu alimento, do que viver em liberdade plena, deixando o dia de amanhã nas mãos de Deus. Desejaram voltar à escravidão apenas pela aparente “estabilidade” e “previsibilidade” que esta lhes oferecia.
Todos nós gostamos da segurança, de saber o que será de nós amanhã, daquela sensação de que tudo está sob o nosso controle. Colhemos para plantar, e fazemos planos com as colheitas. Trabalhamos para receber.Tudo isso é muito natural. Tiago, em sua carta, nos ensina que é correto fazermos planos, desde que esses estejam sujeitos à vontade de Deus (Tg. 4:13-15). Então não há problema algum em planejar, refletir sobre o futuro e tomar decisões sobre o amanhã. Mas o problema surge quando nos tornamos escravos dessas coisas, quando nos apegamos à “estabilidade” e criamos a ilusão de que temos o nosso futuro em nossas mãos.
Caminhar com Deus é conviver com o imprevisível. É andar por fé. Para cumprir qualquer direção do Senhor, é necessário romper com a necessidade de ter o controle de tudo em nossas mãos. Por exemplo, para falar a verdade (Ef. 4:25) ou para confessar os nossos pecados (Tg. 5:16), é necessário estar livre da falsa segurança que a mentira nos oferece. Muitos persistem na mentira por não saber qual será a reação da pessoa enganada quando souber a verdade. Perguntam: “O que será de mim se eu falar a verdade?”. Para tal pessoa mentira é uma forma de manter o controle da situação em suas mãos. As trevas passam a ser seu abrigo. Afinal, falar a verdade pode colocá-la diante do imprevisível. É necessário fé para falar a verdade, e para cumprir qualquer outro mandamento do Senhor.
Obedecer a Deus implica em abrir mão de saber o que acontecerá amanhã, porém mantendo sempre a certeza de que Deus nos ama, que usa todas as coisa para o nosso bem, que o que Ele começou em nós será concluído e que reserva para nós um futuro de glória. Obedecer é se livrar da escravidão da falsa segurança, e se apegar à verdadeira estabilidade que só se alcança ao praticar as palavras do Senhor (Mt. 7:24-27).
Em Cristo,
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