Mais do mesmo?
Há alguns anos, estive em uma reunião em que o o pregador fez a seguinte pergunta: qual é o segredo para experimentar a vontade de Deus? Ao ouví-lo, imediatamente lembrei de Romanos 12:1-2 – “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.
Logo, pensei que a resposta seria a entrega da vida a Deus, como sacrifício sobre Seu altar (Rm. 12:1-2). Mas, apesar de ter pensado nisso, não respondi à pergunta, pois essa mensagem sobre entrega e sacrifício, apesar de forte e necessária, não era nova. Minha expectativa era de que o pregador compartilhasse algo novo, surpreendente. Contudo, a resposta era exatamente a que eu pensava no início. Ao término daquela reunião, apesar do peso e da profundidade daquela palavra, saí com a sensação de que não tinha ouvido nada de novo, mas reforçado princípios já conhecidos. Minha expectativa não foi atingida. Saí com a sensação de ter ouvido “mais do mesmo”.
Contudo, naquele momento percebi o Espírito Santo me dizendo que eu estava me sentindo daquele jeito, com a expectativa não alcançada, porque eu ainda não estava entendendo que a Palavra do Reino é simples, tão simples que todos os seus mandamentos podem ser resumidos em apenas dois: ame a Deus e ame o próximo.
Eu esperava informações novas, surpreendentes, impactantes, mas a vida cristã não consiste em saber cada vez mais informações bíblicas, mas em experimentar, cada vez com mais profundidade, verdades antigas. O impacto da Palavra em nossas vidas, não surge do fato de consistir numa nova informação, mas numa experiência nova, uma vivência diferente, em experimentar em novos níveis a Palavra que muitas vezes é a mesma.
Por exemplo: há um mandamento para em tudo dar graças (I Ts. 5:18) . Num primeiro momento, aprendemos a dar graças nas situações boas, num outro nível aprendemos a dar graças numa situação ruim. O mandamento é o mesmo, mas as circunstâncias em que o experimentamos mudam. Num momento, aprendemos o contentamento na fartura, e em outro, na escassez (Fp. 4:11-13). E é assim que nossa experiência com a Palavra pode ser nova todos os dias. A Palavra é a mesma, mas seu sabor se torna especial a cada situação em que ela é praticada.
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Não podemos ir à Bíblia como se fôssemos à uma biblioteca atrás de informações novas, novidades teológicas. Me assusta a quantidade de publicações cristãs, livros, Bíblias comentadas, que são lançados todos os anos, enquanto que a Bíblia nos aponta o caminho de um ensino simples, mais voltado à prática do que ao acúmulo de informações. Essa sede por coisas novas tem sido fonte que alimenta o surgimento de heresias. Não é sem razão que Paulo orientou a Timóteo a fugir dos falatórios inúteis (II Tm. 2:16)
A doutrina de Jesus, que maravilhava aqueles que a ouviam (Mt. 7:28), consistia em mandamentos práticos como amar o inimigo, perdoar, etc (Mat. 5-7). A sã doutrina, segundo Paulo, consistia em mandamentos práticos para diferentes grupos: idosos, idosas, jovens etc (Tt 2). Quem ensina outra doutrina “é soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas” (I Tm. 6:3-4),
Deveríamos lembrar das palavras de Paulo: “A mim, não me desgosta e é segurança para vós outros que eu escreva as mesmas coisas” (Fp. 3:1).
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Paulo também nos alerta sobre a necessidade de nos mantermos fiéis à simplicidade e pureza devidas a Cristo (II Co. 11:3). Contudo, para nós é muito fácil complicar o que é simples. Essa é uma tentação em que nos envolvemos com muita facilidade. Devemos estar atentos e vigilantes, pois nos afastar da simplicidade é um dos objetivos do nosso adversário, que “anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar” (I Pe. 5:8).
Em Cristo,
Anderson Paz
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