Reflexões

Urubus na igreja

Em tempos de internet, blogs e redes sociais, cresce o número de pessoas que se consideram incumbidas da missão de “defender a fé”, denunciando os erros e heresias que permeiam o cotidiano da igreja. Sempre tem quem queria expor os falsos profetas e se ocupe em encontrar os erros desses homens. Por vezes, se encontram um milímetro de erro em certa pregação, mesmo que não comprometa os aspectos centrais da fé cristã, esses “defensores da fé” rapidamente  denunciam a suposta “heresia”. Chegam ao ponto de fazer isso não por dever, mas por prazer. Andam tão em busca de coisas podres na igreja que parecem se comportar como urubus, que sempre estão procurando carniça. São pessoas que tem prazer em encontrar lixo. Na mesma velocidade com que se prolifera o lixo, também se proliferam os urubus.

O grande questão é que para defender a fé, não é suficiente zêlo doutrinário. Se a nossa intenção é agradar a Deus, é também necessária uma motivação alinhada com o coração de Pai, que não se alegra com o erro. Lembremos de Paulo, de seu zêlo pela fé, mas também de seu amor pelas pessoas. Ao falar sobre os inimigos da cruz de Cristo, o apóstolo fazia com lágrimas nos olhos.

“Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo. O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas” (Filipenses 3:18,19).

Se acreditamos que o engano ou a heresia pode levar uma pessoa à perdição, deveríamos sentir tristeza e pesar, e não prazer em denunciar o erro. Existe uma motivação correta para se fazer apologética (defesa da fé), do contrário seremos meros urubus pensando ser profetas. Não devemos fazer do pecado motivo para piada, diversão ou entretenimento.

Devemos ensinar a verdade sempre. Sabemos também que muitos querem ser enganados, seguindo mestres segundo suas próprias cobiças (II Timóteo 4:3,4). Contudo, até para com aqueles que querem ser enganados, nossa atuação deve ser no sentido de conduzi-los à verdade.

“Meus irmãos, se algum entre vós se desviar da verdade, e alguém o converter, sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado salvará da morte a alma dele e cobrirá multidão de pecados” (Tg. 5:19,20).

“E compadecei-vos de alguns que estão na dúvida; salvai-os, arrebatando-os do fogo; quanto a outros, sede também compassivos em temor, detestando até a roupa contaminada pela carne” (Judas 22,23).

A atitude de quem faz da denúncia do erro como um fim em si mesma, e não um meio para libertar pessoas, me entristece tanto quanto ver toda a confusão e heresia que permeia o mundo evangélico. Afinal, a apologética só faz sentido quando seu fim é fazer com que pessoas se voltem à Verdade, que é libertadora!

Precisamos de um coração misericordioso, pois só assim poderemos exercer com excelência nosso dever de defender a fé e não correremos o risco de sermos simples urubus.

Em Cristo,
Anderson Paz