Reflexões

A Síndrome da Originalidade

Não sei se você já parou para pensar numa coisa que talvez seja um dos principais problemas na história da Igreja. Algo que pode ser a mãe da maior parte das heresias. É uma doença da alma, chamada síndrome da originalidade.

Talvez você já tenha ouvido falar sobre isso, pois não sou o primeiro a falar. Na verdade, se eu falasse que sou o primeiro, eu já estaria sofrendo dessa síndrome. Tenho ouvido sobre esse tema em conversas entre a equipe Conexão Eclésia, e especialmente o Sérgio Franco tem falado sobre esse assunto.

Nós temos refletido muito sobre isso, e considero que é um tema importante para ser compartilhado. Precisamos ter cuidado com a síndrome da originalidade.

Em que consiste essa síndrome? Como ela se manifesta? Quais são os seus casos mais graves? Talvez a melhor forma de explicar seja através de um exemplo. Suponhamos que certo homem identifique (ou pense que exista) um problema na igreja, e ele quer encontrar a solução, uma coisa nova, diferente e sobre a qual ninguém jamais falou. Esse homem acha que vai encontrar a solução, e pode ser que ele até mesmo recorra à Bíblia para extrair algo de lá, e acaba por encontrar que os judeus comemoravam a festa dos tabernáculos. Então, esse homem inova e entende que o problema da igreja é a falta de comemorar a festa dos tabernáculos, ou, por exemplo, a falta de guardar o sábado. Enfim, podemos usar vários exemplos. Esse homem acha que tem a solução, que ninguém nunca falou, e que isso vai resolver todos os problemas. Assim começa a síndrome da originalidade, e dessa forma ela pode dar origem à muitos erros.

Como o homem do exemplo acima quer falar o que ninguém nunca disse, ele fica cego, sem perceber coisas que a própria Bíblia explica. No exemplo que citamos, podemos dizer que a própria Bíblia explica no Novo Testamento que as festas judaicas ou o sábado eram sombras, eram figuras. A Bíblia mesmo já estabelece a interpretação possível para esses temas. Porém, quem tem a síndrome da originalidade quer interpretar o que já está interpretado até mesmo pelo próprio Jesus e pelos apóstolos.

Jesus é o Verbo de Deus, é o esplendor da glória do Pai. Quem vê Jesus vê ao Pai. Então, o que Jesus explicou não precisa ser reinterpretado, explicado novamente. Coisas que Jesus e os apóstolos já nos explicaram, não precisam de outra interpretação. Porém, quem está contaminado com essa síndrome, para justificar sua ideia, é capaz de isolar um texto do Antigo Testamento e inventar coisas sobre as quais a Bíblia já dá explicação clara.

Portanto, a síndrome da originalidade, no seu grau mais elevado, pode levar até mesmo à alguma heresias destruidoras, que causam muito dano à igreja de Jesus. Mas essa síndrome também pode aparecer de formas menores, em graus mais leves. Ainda que em grau leve, ela é séria e deve ser tratada.

A síndrome aparece, por exemplo, quando alguém tem vergonha de dizer o que outra pessoa já disse. Imaginemos uma reunião onde é perguntado para as pessoas presentes o que elas pensam sobre determinado tema, ou sobre o que Deus está falando com cada uma. Se outra pessoa fala antes o que você falaria, e se por isso você já não quer mais falar, é bem provável que você já esteja com a síndrome. Você poderia apenas dizer: “Deus está confirmando as coisas, pois o que Ele colocou no meu coração foi a mesma coisa que colocou no coração daquela pessoa”. Mas, você simplesmente não fala o que o outro já falou, pois você quer falar o novo, o diferente, o que ninguém disse. Isso é um problema.

Se você sempre quer falar o que ninguém disse, você não está preparado para a obra de fazer discípulos, pois uma das principais condições para ser e fazer discípulos de Jesus é a fidelidade.

Paulo diz o seguinte a Timóteo:

“E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros” (II Timóteo 2:2).

Fidelidade é indispensável para quem está comprometido com a obra de fazer discípulos. Fidelidade a Deus, à Sua Palavra, e aos relacionamentos nos quais Deus nos plantou. Ela é uma virtude indispensável e inegociável.

Então, não há problema de falarmos as mesmas coisas que outra pessoa já disse. O nosso compromisso não é de falar o novo, mas é falar a Palavra de Deus. E esta, apesar de ser a mesma, para cada pessoa ela pode representar um desafio diferente.

Nosso compromisso é com a Palavra, nada além, nada aquém. Não podemos ceder à tentação de perder a simplicidade e a pureza devidas a Cristo. Temos uma dívida de simplicidade e de pureza com Jesus. Temos uma dívida de permanecer fiel ao que Ele disse.

Em Cristo,
Anderson Paz