Reflexões

A síndrome da relevância

Todos temos a necessidade de nos sentirmos importantes. Muitos só se movem se tiverem a certeza de que desempenharão um papel relevante. Parece que hoje em dia isso se tornou ainda mais necessário para uma geração midiática, que busca encontrar seu valor nas realizações com grande visibilidade e aceitação. Porém, isso se trata de um anseio antigo. Me lembro da fala no filme “Gladiador” que, em busca de motivar seus liderados para uma batalha acirrada, o general Romano Máximus Décimus Meridius declarou: “O que fazemos na vida ecoa por toda a eternidade!”. Esse anseio também se encontra nos registros bíblicos, em uma era muito antiga, na Mesopotâmia:

 “Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra” (Gênesis 11:4).

Será um erro a busca pelo que é relevante? Mas o que é realmente relevante? Talvez o problema esteja na perspectiva pela qual encaramos o assunto “relevância”. Ou a perspectiva é a glória humana ou a glória de Deus.

Um grave problema

Um grave problema pode ser encontrado no motivo para se fazer algo relevante. Há um grande perigo quando o desejo por realização nos domina e escraviza. E pensamos que dependemos dessa realização para nos sentirmos plenos. As coisas pequenas, por mais importantes que sejam, acabam perdendo seu significado em nosso coração e andamos em busca de coisas grandiosas demais para nós.

Davi denuncia isso em um clamor registrado em um Salmo:

“Senhor, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar, não ando a procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim” (Salmos 131:1).

Parece um clamor desesperado de quem está lutando contra a soberba da vida. De quem sabe o perigo que está em querer atrair glória para si.

Glória e honra pertencem a Deus, mas o homem insiste em tentar roubá-las dEle. É tentador tomar os créditos pra si. É sutil a necessidade que temos de dividir a visibilidade e reconhecimento com o Único que merece recebê-los. Glória é visibilidade. Observe o tom usado por José quando seus irmãos voltaram ao Egito e viram todo o status que Deus o concedera:

“Anunciai a meu pai toda a minha glória no Egito e tudo o que tendes visto; apressai-vos e fazei descer meu pai para aqui” (Gênesis 45:13).

Deus pode favorecer alguém para que Sua glória se manifeste. É por isso que:

“Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus” (I Coríntios 1:28-29).

Grandeza e relevância

Não raramente confunde-se o fazer algo relevante com o fazer algo grande e reconhecido. A relevância tem seu significado a partir da perspectiva com que se vê. O que é relevante para nós pode não ser para Deus e vice-versa. Tudo depende de quem você quer agradar.

Queremos ser lembrados, queremos dar relevância às nossas realizações e temos medo de viver uma vida sem experiências. Queremos experimentar porque em algum momento percebemos que a nossa vida é passageira. E em busca dessas coisas, muitos se deparam com a constatação do autor de Eclesiastes: “Tudo é vaidade e correr atrás do vento”. Mas ainda assim, muitos ignoram essa constatação e buscam se encher de vaidades, se embriagam com o que é vão pra poder esconder o fato do vazio. Nessa busca, o sofrimento, a solidão e a frustração amarguram a experiência de alguns. Por isso inúmeras vezes trabalhamos muito, saímos muito, viajamos muito, falamos muito, comemos muito. Tudo com muito exagero.

Enquanto isso, a verdadeira relevância está em cumprir a missão para a qual formos chamados por Deus. Podemos identificar isso através dos carismas que recebemos do Senhor, habilidades e paixão genuína que carregamos dentro de nós. Max Lucado, em seu livro “Quebrando a rotina”, revela essa verdade ao aconselhar aqueles que querem descobrir o foco que precisam dar em suas vidas no que diz respeito à realização: Não siga sua ambição! Ele defende que nossa ambição na maioria das vezes nos engana nos atraindo apenas para aquilo que nossa carne considera relevante.

Jesus ensinou, de forma prática, que devemos pensar e agir com humildade para vencer esse mal:

Quando por alguém fores convidado para um casamento, não procures o primeiro lugar; para não suceder que, havendo um convidado mais digno do que tu, vindo aquele que te convidou e também a ele, te diga: Dá o lugar a este. Então, irás, envergonhado, ocupar o último lugar. Pelo contrário, quando fores convidado, vai tomar o último lugar; para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, senta-te mais para cima. Ser-te-á isto uma honra diante de todos os mais convivas. Pois todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado” (Lucas 14:8-11).

Vale ao homem entender o que Deus requer de sua vida, pra que não seja consumido pela síndrome da relevância:

 “Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus” (Miqueias 6:8).

O risco que corremos é fazer aquilo que Deus não pediu, e fazermos em nome da realização pessoal e  de uma suposta “relevância”. E assim deixamos de lado o propósito de Deus e vivemos uma vida de cansaço e fadigas na alma. Um bom exemplo disso são os que querem ser ricos:  “Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição” (I Timóteo 6:9).

Podemos tomar emprestado essa advertência para outras ambições. Os que querem ser ricos e os que são consumidos pela necessidade de se sentirem relevantes. Cuidado para não cair em tentação, ciladas e muitas concupiscência insensatas e perniciosas, as quais AFOGAM os homens na ruína e perdição.

Ideraldo de Assis
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