Anonimato e coragem de uma mulher
Quando leio o texto da mulher do fluxo de sangue, duas coisas me chamam atenção. A primeira é o seu anonimato. A mulher do fluxo de sangue é uma das personagens mais conhecidas da Bíblia, embora seu verdadeiro nome nunca tenha sido mencionado. O nome é a primeira coisa que nós recebemos quando chegamos nessa terra. Mas o que acontece quando alguém experimenta um milagre e essa pessoa não é identificada, sendo reconhecida apenas pela doença que possuía?
Recentemente me casei e confesso que tive certa dificuldade em receber o nome do meu marido. Sempre gostei muito do meu sobrenome. Para ser bem sincera, tinha bastante orgulho dele. Mas acredito que, ao adotar o sobrenome do marido, a mulher demonstra não apenas submissão, mas união entre duas famílias. Porém, o principal motivo pelo qual mudei de nome foi crer no senhorio de Jesus, uma vez que Ele é meu dono, tenho que estar livre de tudo, até mesmo de quem sou. Afinal, o nome que tem poder é o dEle, e nenhum outro. E no milagre operado na vida daquela mulher, não era o nome dela que devia ser destacado, mas o nome daquele que muda as nossas vidas, opera milagres, nos salva e muda o nosso caráter. Isso é relevante, isso precisava entrar para a história.
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Contudo, esse texto traz um detalhe importante. Quando Jesus despediu a mulher do fluxo de sangue, Ele não a chamou pelo nome, mas a chamou de filha. Não me lembro de outro registro em que Jesus chama assim alguma pessoa que Ele curou e depois despediu. Para o geraseno, Ele apenas disse: ” vai para casa e conta aos teus tudo o que Deus fez por ti” (Lucas 8:39). Ele poderia ter dito para aquela mulher apenas o que disse ao geraseno: “vai em paz”. Ou, “Mulher, a tua fé te salvou, vai em paz”. Mas ele disse: “Filha, a tua fé te salvou; vai em paz” (Lucas 8:48). Ele a chamou de filha. Para entender melhor o que isso significa, vamos à segunda coisa que me chama atenção nesse texto: a coragem daquela mulher.
Segundo a lei de Moisés uma mulher era considerada imunda quando estava em seu período menstrual, e tudo o que ela tocasse tornava-se igualmente imundo. Os Evangelhos relatam que tal mulher padecia com aquele fluxo havia 12 anos. Imagino que ela estivesse fraca e debilitada, então para chegar até Jesus ela deve ter se esforçado muito e demorado muito. Pois, aproximar-se de Cristo, além do esforço físico, exigia discrição. Ela não poderia tocar nas pessoas, pois as contaminaria, logo, ela não poderia ser vista. Se isso acontecesse, ela corria o risco de ser expulsa do lugar em que estava, humilhada e até agredida. Imagino que aquela mulher tivesse muitos complexos. Ela era definida pela sociedade como imunda, provavelmente sentia-se um fardo para aqueles que conviviam com ela.
Mas tal mulher se encheu de esperança e fé ao ouvir falar de um homem que curava doentes. Creu que se apenas tocasse suas vestes seria curada, livre de todos aqueles estigmas. Ela enfrentou a multidão, tocou em Jesus e imediatamente foi curada. Chamou a atenção do Mestre, e Ele queria saber quem o tocou, pois dele havia saído poder.
“Vendo a mulher que não poderia ocultar-se, aproximou-se trêmula e prostrando-se diante dele, declarou, à vista de todo o povo, a causa porque lhe havia tocado e como imediatamente fora curada” ( Lucas 8:47).
Ela sentiu tanto medo que tremia. Mas Jesus não a expulsou, não a chamou de imunda, não a entregou à lei. Ele disse: “Filha, a tua fé te salvou, vai- te em paz”. Ele não apenas a curou, mas deu-lhe uma nova identidade e a vida eterna. Ele não a chamou pelo nome, a chamou de filha. Convidou-a para fazer parte a sua família, deu-lhe valor, e uma nova razão para viver.
É isso que Jesus faz em nossas vidas. Ele nos adota como filhos, nos dá a vida eterna e transforma as nossas razões para viver. Quando entendemos isso, somos livres de coisas pequenas, como nossos direitos e os cuidados com as coisas dessa vida. Que a história da mulher do fluxo de sangue seja uma inspiração para nós, para que posssamos prosseguir com coragem e humildade, sem preservar nosso nome ou reputação, firmes em seguir a Jesus.
Bianca Garofani Paz
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