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O “cisco” da Dilma e a “trave” do Cunha

A decisão de Eduardo Cunha (que responde processo de cassação do mandato no Conselho de Ética da Câmara) de abrir processo de impeachment contra a presidente Dilma,  me fez lembrar de uma das frases mais conhecidas de Jesus: “Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão, mas não percebes a trave que está no teu?” (Mateus 7:3). Essa talvez seja uma das frases mais conhecidas de Jesus, mas também uma das mais mal compreendidas. Por isso, o momento político do Brasil acaba sendo uma oportunidade de refletirmos sobre o que Jesus realmente ensinou.  Afinal, o que Ele quis dizer com “trave” e “cisco”? Tem a trave no olho quem pecou mais, e o cisco quem pecou menos?

Em primeiro lugar, o que determina se o que temos no olho é uma trave não é nossa própria “quantidade de pecados”, mas sim como tratamos nossos erros frente aos de nossos irmãos. Se apontamos os pecados dos outros, sem olharmos para nós mesmos, se somos condescendentes com nossos erros, enquanto condenamos os dos outros, estamos acrescentando ao nosso pecado a hipocrisia. E é a presença da hipocrisia que faz com que tenhamos uma trave no olho, e nos desabilita a tirar o cisco dos olhos das pessoas. Jesus condena a hipocrisia de quem condena os outros e alivia os próprios pecados.

“Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão, mas não percebes a trave que está no teu? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o cisco do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás claramente para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Mateus 7:3-5).

Tendo já definido quem tem a trave, agora é importante saber o que fazer. Não adiante saber que você tem uma trave e seu irmão um cisco. Jesus não ensina: “como todos são pecadores, cada um permaneça na sua”. O ensino do Senhor não é sobre tolerar o pecado ou se omitir frente ao pecado dos outros. Ele nos convoca para uma ação, primeiramente conosco mesmos, e depois com nossos irmão. Quem tem a trave no olho não deve se conformar com essa situação e se calar quanto ao erro dos outros. Necessita antes de arrependimento, quebrantamento e confissão. “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que confessa e deixa, alcança misericórdia” (Provérbios 28:13). “…Confessai o vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados” (Tiago 5:16a). “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda injustiça” (I João 1:9).

Uma vez retirada a trave do nosso olho, aí sim estaremos aptos para retirarmos os ciscos de nossos irmãos. Não podemos nos omitir em relação os problemas dos nossos irmãos. Não podemos fugir da responsabilidade que temos uns com os outros. Não podemos ser cúmplices das obras infrutíferas das trevas, e essa cumplicidade só é rompida quando reprovamos essas obras (Efésios 5:11-13). Mas, só quando tiramos a trave podemos retirar os ciscos dos outros, pois então veremos claramente e ajudaremos nossos irmãos. Retirar o cisco do outro não é “atirar pedras”, não é condená-lo ao fim, mas sim resgatá-lo.

Só quando retiramos a trave do nosso olhos, podemos olhar com misericórdia para os nossos irmãos e ajudá-los.