Por que o Príncipe da Paz trouxe a divisão?
Muitos se assustam ao lerem a seguinte declaração de Jesus“Vocês pensam que vim trazer paz à terra? Não, eu lhes digo. Pelo contrário, vim trazer divisão!” (Lucas 12:51). O que causa estranheza é o fato de Jesus ser o Príncipe da Paz (Isaías 9:6). Ele mesmo disse: “Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou” (João 14:27). Isso não seria um comportamento contraditório de Jesus? Não, de forma alguma. Antes de tudo, precisamos entender que tipo de paz nos é dada por Ele.
Paulo, em Romanos 5:1, tem muito a nos dizer sobre essa paz: “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo”. N’Ele temos paz com Deus. E precisamos de ter paz com Deus pois, por natureza, estamos em estado de constante guerra e rebelião contra Deus. Isso se encontra presente em todas as Escrituras. Éramos por natureza filhos da ira e da desobediência (Ef. 2:1-3), inimigos de Deus (Cl. 1:21), merecedores de castigo. Fazíamos parte do império das trevas (Cl. 1:13). Mas Jesus veio e nos deu a oportunidade de entrarmos em paz com Deus, para que esse estado de guerra tenha um fim.
E quando entramos em paz com Deus? Jesus responde isso claramente em Lucas 14: 31,32
“… qual é o rei que, pretendendo sair à guerra contra outro rei, primeiro não se assenta e pensa se com dez mil homens é capaz de enfrentar aquele que vem contra ele com vinte mil? Se não for capaz, enviará uma delegação, enquanto o outro ainda está longe, e pedirá um acordo de paz. Da mesma forma, qualquer de vocês que não renunciar a tudo o que possui não pode ser meu discípulo” .
O Príncipe da Paz veio anunciando que o Reino de Deus estava próximo, e deixou clara a condição para estarmos em paz com esse Reino: rendição plena, completa, total. Depois de ressurreto, e tendo recebido todo o poder nos céus e na terra, ordenou aos seus discípulos que fizessem outros discípulos, dentre todas as nações. Discípulos são pessoas que se dedicam a obedecer tudo o que Jesus ordenou, que renunciaram a tudo por amor a Ele.
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Através de uma entrega total a Jesus entramos em paz com Deus. Afinal, esse foi o propósito da morte e ressurreição de Jesus: Ser Senhor sobre todos e sobre tudo:
“Por esta razão Cristo morreu e voltou a viver, para ser Senhor de vivos e de mortos” (Rm. 14:9).
“E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (II Co. 5:15).
Paz com Deus! Esse é o melhor presente que poderíamos receber. Temos a oportunidade de nos reconciliar com o Pai.
E uma vez reconciliados, podemos desfrutar da paz de Deus, que foi prometida por Jesus em Jo. 14:27 e da qual Paulo fala em Filipenses 4:7
“Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou” (Jo. 14:27)
“E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus” (Fp. 4:7).
É a paz de Deus que nos permite experimentar quietude interior, mesmo quando as coisas não estão bem ao nosso redor. Só experimentamos essa paz à medida que o alvo de nossas vidas é o Reino de Deus: “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas” (Mt. 6:33). Nesse contexto, Jesus está falando que não devemos andar ansiosos ou aflitos pelas necessidades desta vida (comer, beber e vestir), mas devemos tão somente fazer a vontade de Deus (Reino de Deus), que o resto é com Ele mesmo.
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Experimentamos a paz de Deus quando nos despreocupamos com as coisas da vida, e focamos tão somente em realizar vontade do Senhor. Temos desejos quanto à esta vida? Sim. E temos desejos legítimos? Sim. Contudo, quanto a isso, Paulo nos diz: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus … guardará os seus corações” (Fp. 4:6,7). Já Pedro, em sua carta, nos ensina: “Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês” (I Pe. 5:7).
A Paz de Deus é resultado de uma vida de oração, de se alimentar das verdades da Palavra e de busca de plenitude em Deus. Ela demanda de nós exercícios práticos, indispensáveis para quem leva a sério a vida cristã. A Paz de Deus não representa a solução de nossos problemas e sofrimentos, mas consiste na solução de nossos corações frente a eles.
Contudo, tudo o que foi exposto até aqui ainda não explica a razão pela qual Jesus disse que não veio trazer paz à terra, mas sim a divisão. Se analisarmos atentamente o versículo, constataremos que Jesus não está falando da paz com Deus, e nem mesmo da paz de Deus, mas sim da paz com os homens. Afinal, nos versículos seguintes Jesus prossegue dizendo:
“Vocês pensam que vim trazer paz à terra? Não, eu lhes digo. Pelo contrário, vim trazer divisão! De agora em diante haverá cinco numa família divididos uns contra os outros: três contra dois e dois contra três. Estarão divididos pai contra filho e filho contra pai, mãe contra filha e filha contra mãe, sogra contra nora e nora contra sogra” (Lc. 12:52,53).
Precisamos compreender que a decisão de seguir ao Príncipe da Paz, ao mesmo tempo que significa nossa reconciliação com Deus, pode resultar em certas rupturas com os homens. Exemplo disso foi a atitude dos apóstolos que, ao receberem ordens das autoridades para não falarem mais no nome de Jesus, declararam: “É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens!” (At. 5:29). As vezes essas rupturas dizem respeito às pessoas a quem mais amamos, como a nossa família. Afinal, o próprio Senhor disse: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim” (Mt. 10:37). Certamente os cristãos perseguidos têm muito nos ensinar sobre esse tema. Todavia, mesmo nos lugares em que não há perseguição oficial, a decisão de seguir a Jesus implica em certas rupturas, afinal, Jesus disse: “nenhum escravo é maior do que o seu senhor. Se me perseguiram, também perseguirão vocês. Se obedeceram à minha palavra, também obedecerão à de vocês” (Jo. 15:20). E Paulo nos lembra que “todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (II Tm. 3:12).
Essas verdades precisam ser lembradas para compreendermos o mandamento que diz: “se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens” (Rm. 12:18). Nem sempre a paz é uma possibilidade, mas buscá-la é sempre um mandamento. “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb. 12 : 14).
Mas, até que ponto a paz com os homens depende de nós? Acredito que a resposta seja simples, pois o contexto de Rm 12:17-21 explica:
“Não retribuam a ninguém mal por mal. Procurem fazer o que é correto aos olhos de todos. Façam todo o possível para viver em paz com todos. Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: “Minha é a vingança; eu retribuirei”, diz o Senhor. Pelo contrário: “Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo isso, você amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele”. Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem”.
Para viver em paz com todos os homens, o que está ao nosso alcance é não tomar vingança, é vencer o mal com bem. Como disse o próprio Senhor: “Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem” (Mt. 5:44). Depende de nós o agir como Jesus, que “quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça” (I Pe. 2:23). Só quando chegamos a tal ponto, podemos dizer que fizemos de tudo para ter paz com os homens. Enquanto não chegarmos aí, ainda não podemos dizer que esgotamos as possibilidades. Infelizmente, muitas de nossas guerras e conflitos, não são resultados de nossa obediência à Jesus, mas de nossa recusa em obedecê-lo e seguir seu modelo.
Que andemos sempre nos passos de Jesus, o Príncipe da Paz, pois afinal, “aquele que afirma que permanece nele, deve andar como ele andou” (I Jo. 2:6).
Em Cristo,
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