Charles Darwin se converteu?
Há alguns anos reproduzi em meu antigo blog pessoal um artigo intitulado “O Naturalista e o Missionário”. Tratava-se de um texto publicado pela revista Ultimato no qual era traçado um paralelo muito interessante entre as vidas do naturalista Charles Darwin e do missionário Robert Reid Kalley.
Rapidamente o referido post se tornou mais visualizado do blog. Constatei que grande parte dessas visualizações vieram de pesquisas feitas no Google sobre a suposta conversão de Charles Darwin, o pai da teoria da evolução das espécies. Existe muita gente interessada em confirmar a veracidade da informação de que Darwin, em seus últimos momentos de vida, teria se convertido à fé cristã.
No artigo citado, não era feita nenhuma referência à conversão de Darwin, mas apenas relata este que passava por conflitos íntimos. Na verdade, não há nenhuma informação segura de que Darwin tenha se convertido, e seus filhos negaram que isso tenha ocorrido. Portanto, isso é uma das coisas que só será conhecida no dia em que o Senhor voltar, quando trará à luz as coisas ocultas e manifestará os desígnios dos corações (I Co. 4:5).
Darwin, tendo recebido uma educação religiosa, ao longo de sua vida foi se desfazendo dessa bagagem. Contudo, sua opinião sobre a existência de Deus variou entre o agnosticismo e uma forma imprecisa de teísmo. Reinaldo José Lopes, em seu texto “Darwin e os ateus fundamentalistas”, cita algumas declarações de Darwin acerca do assunto.
Ao explicar sua posição de agnóstico ao botânico britânico Asa Gray, Darwin escreveu:
“Em relação ao lado teológico da questão: isso sempre me é doloroso. Estou confuso. Não tive a intenção de escrever de forma ateísta, mas devo dizer que não consigo ver de forma tão clara quanto outros veem, e como eu gostaria de ver, as evidências de desígnio e beneficência em torno de nós. A mim parece haver muita desgraça no mundo. Não consigo me persuadir que um Deus beneficente e onipotente teria criado as Ichneumonidade [um tipo de vespa] com a intenção expressa de elas se alimentarem com os corpos vivos de lagartas, ou por que um gato deveria brincar com os camundongos… Por outro lado, não consigo me contentar de forma nenhuma em ver este maravilhoso Universo, e especialmente a natureza do homem, e concluir que tudo é o resultado de força bruta. Estou inclinado a enxergar todas as coisas como resultado de leis projetadas, com os detalhes, sejam eles bons ou maus, deixados à mercê do que podemos chamar de acaso. Não que isso me satisfaça de alguma forma. Sinto de forma muito forte que todo esse assunto é profundo demais para o intelecto humano. É como um cão tentando especular sobre a mente de Newton”.
Em sua auto-biografia, Darwin prossegue com seus pensamentos falando “da extrema dificuldade, ou mesmo impossibilidade, de conceber este imenso e maravilhoso Universo, incluindo o homem e sua capacidade de olhar para as profundezas do passado e do futuro, como o resultado de acaso ou necessidade cegos. Ao assim refletir, sinto-me forçado a imaginar uma Primeira Causa com uma mente inteligente, em algum grau análoga à do homem; e mereço ser chamado de teísta”.
Os conflitos religiosos de Darwin consistem em uma demonstração de que as grandes perguntas acerca da vida humana e da existência do Universo, apesar de todo o desenvolvimento da Ciência, ainda não foram respondidas por ela. Contudo, um poeta chamado Davi, ao observar os céus, não resistiu e chegou à simples conclusão: “Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos” (Salmo 19:1). E, após olhar para si mesmo, disse a Deus: “Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem” (Salmo 139:14). Em Deus encontramos nossa razão de ser e o propósito de nossa existência, “porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Romanos 11:36).
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