Reflexões

O caminho para a irrelevância da Igreja

Há alguns anos assisti um documentário produzido pela BBC sobre a história do ateísmo. Em determinado momento, o apresentador, que é um ateu britânico, se encontra com um grupo de ateus nos EUA e faz um comentário sobre a perda de influência do Cristianismo na Inglaterra. Ele afirma que certos cristãos estão de tal forma desesperados por apoio popular que, para mantê-lo, poderiam lançar Deus por uma janela. O apresentador prossegue falando que, para muitos anglicanos, Deus não é mais que um parente desajeitado que poderia envergonhá-los ao descer as escadas, causando problemas.

No referido comentário, nota-se que o desprezo do apresentador pelo Cristianismo cresce à medida que este altera sua essência a fim de não perder sua influência. O comentário sobre os anglicanos se deve à significativa presença, nessa denominação, do liberalismo teológico, com sua pregação de “um Deus sem ira e um Cristo sem cruz a um homem sem pecado”. Fato é que a maior parte dos anglicanos, concentrados principalmente na África, não se rendeu ao liberalismo, e que essa denominação nos deu homens como C.S. Lewis, John Stott , J. I. Packer, N.T. Wright e outros que são lidos e admirados por cristãos de todo o mundo. Contudo, o liberalismo entre os anglicanos tem encontrado grande espaço principalmente na Inglaterra, na Igreja Anglicana no Canadá (que há alguns anos autoriza a realização de uniões homossexuais), e na Igreja Episcopal (braço da Comunhão Anglicana nos EUA), que em 2003 elegeu Gene Robinson como seu primeiro bispo abertamente gay, e em 2009 elegeu Mary Glasspool como sua primeira bispa assumidamente lésbica.

É interessante observar que, à medida que o liberalismo tem crescido nesses grupos religiosos, a membresia tem encolhido. A estimativa é que a Igreja Episcopal tenha conhecido um declínio de 60.000 membros (3%) durante 2009. Calcula-se que em 1965, quando a população norte-americana era de 150 milhões de pessoas, Igreja Episcopal tinha 3 milhões e 500 mil membros. Hoje a população daquele país é o dobro (mais de 300 milhões) e a Igreja Episcopal encolheu para 2 milhões de membros, embora apenas 800 mil (maioria de idosos) frequenta regularmente os templos.

A Igreja Anglicana do Canadá, que anteriormente era a maior daquele país, pode desaparecer em 50 anos. Ela vem perdendo em média de 13.000 membros por ano. Mantido esse índice, em 2061 haverá no Canadá apenas um 1 anglicano.

Esses dados apresentados, à luz da declaração feita pelo ateu do documentário citado, mostram que o liberalismo não faz com que as igrejas ganhem relevância no contexto social em que estão inseridas. É claro que não se pode atribuir o encolhimento desses grupos apenas ao liberalismo, já que há todo um processo de secularização no mundo ocidental. Contudo, esses dados nos ajudam a ver qual é o caminho para a irrelevância completa da igreja.

A igreja perde sua relevância quando cede à tentação de apresentar o que o mundo quer, e não o que o mundo precisa. O mundo não precisa de uma igreja que seja cúmplice de seu pecado. O mundo precisa ouvir a mensagem de amor mas também de arrependimento. Foi isso que Jesus pregou em todo o seu ministério, e é isso que o Céus esperam encontrar entre os homens. Afinal,“haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende” (Lc. 15:7). E arrependimento implica necessariamente em mudança de vida, pois não há arrependimento genuíno que não produza seus devidos frutos. Se a igreja deixa de pregar o arrependimento, fica fadada à irrelevância, sem significado algum no mundo.

O que o mundo precisa não é de uma igreja que alimente seu ego, mas de uma igreja que pregue a mensagem da cruz, que embora pareça loucura, continua sendo o poder de Deus para salvação do que crê. Essa é a igreja relevante aos olhos do Senhor e que pode apresentar ao mundo o que este realmente precisa.

Se há algo de relevante que a Igreja pode fazer pelo mundo, e que justifique sua presença na Terra, é a pregação do Evangelho do Reino, simples e puro, tal como ele é. Um mundo perdido precisa daquilo que lhe pode salvar.

Em Cristo,
Anderson Paz 

Confira também:
– A graça do arrependimento
O que Deus não leva em consideração
Marcianos, venusianos e a Igreja

 

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