Deus, o humor e o perigo
“Poucas coisas são tão benéficas na vida cristã como um agradável senso de humor, e poucas são tão mortais como um senso de humor descontrolado” (A. W. Tozer)
Em seu texto “Uso e abuso do humor”, Tozer faz considerações importantíssimas sobre como um cristão deve lidar com esse dom divino que é o humor.
A primeira coisa que Tozer destaca é que o humor é uma dádiva que nos foi concedida pelo próprio Deus, sendo um elemento constituinte da própria formação humana: “Quando Deus nos fez, incluiu o senso de humor como um traço característico embutido em nossa estrutura, e o ser humano normal possui este dom”. E ele prossegue dizendo que o humorismo surge da nossa habilidade em perceber o que está fora do lugar, fora de foco: “A fonte do humorismo é capacidade de perceber o incôngruo. As coisas que estão fora de foco nos parecem engraçadas, e podem despertar em nós um sentimento de diversão que irromperá em risada”.
Sendo assim, a falta de humor seria algo anormal, uma anomalia típica de ditadores e fanáticos: “Hitler nunca percebeu como ele parecia divertido, nem Mussolini soube como soava ridículo quando declamava solenemente as suas frases bombásticas. … O religioso fanático olha para situações tão cômicas que chegam a provocar incontrolável hilaridade em pessoas normais, e não vê nada de divertido nelas. … E na medida em que é cego para o incôngruo, é anormal; não é integralmente o que Deus quer que ele seja”.
Sem dúvida alguma, Deus nos deu o humor e com certeza o aprecia. Afinal, Deus viu que tudo quanto criara era bom. Contudo, é imprescindível que façamos uma clara e nítida distinção entre o humor e a frivolidade: “O cultivo de um espírito que não pode levar a sério nada é uma das grandes maldições da sociedade e, dentro da igreja, tem servido para impedir muita bênção espiritual que doutro modo teria descido sobre nós”. E para enxergarmos o limite que separa o humor da frivolidade, é preciso saber que há coisas das quais podemos e até mesmo devemos rir, doutra forma seríamos anormais. Todavia, há coisas com as quais não devemos brincar. Não se deve fazer piada com o que entristece a Deus: “o pecado não é divertido; a morte não é divertida. Não há nada de engraçado num mundo cambaleando à beira da destruição … nada de engraçado nos milhões que perecem a cada ano sem jamais terem ouvido o Evangelho de amor”.
Não há nada de engraçado ao ver a Igreja, que é o corpo de Cristo, a família do Pai e o Templo do Espírito, infiltrada por inimigos da cruz de Cristo. Não há nada de engraçado por ver a Igreja abrindo-se para a heresia e o engano. Não há nada de engraçado em ver a hipocrisia. Não há nada de engraçado ver o povo padecendo por falta de conhecimento. Tais coisas deveriam nos fazer chorar e agir em direção à edificação da Igreja e o resgate dos que se encontram perdidos. Como disse Tozer: “quando o humorismo toma a religião como seu objeto de diversão, já não é natural – é pecaminoso e deve ser denunciado pelo que é. E deve ser evitado por todo aquele que deseja andar com Deus”.
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Por fim, no último parágrafo de seu texto, Tozer nos ensina: “Não estou argumentando em prol de uma solenidade anti-natural; não vejo valor na melancolia, e não vejo mal numa boa risada. Minha luta é por uma seriedade grandiosa que harmonizará a n0ssa disposição de ânimo com a do Filho do homem, dos profetas e dos apóstolos das Escrituras”.
Que o Espírito Santo nos conduza a desfrutar desse dom que é o humor, com o devido equilíbrio e seriedade, fazendo tudo para que Deus seja glorificado.
Em Cristo,
Anderson Paz
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