Reino de Deus e ficção cristã
Como a ficção pode contribuir com a propagação de uma mensagem? Como pode cooperar com o Reino de Deus na terra?
“A que vens, Filho da Terra? – perguntou Aslam.
-A Rainha de Nárnia e Imperatriz das Ilhas Desertas deseja salvo-conduto para vos falar sobre um assunto que tanto interessa a vós como a ela – disse o anão, na ponta da língua.
– Ah! Rainha de Nárnia! – comentou o Sr. Castor.
– Mas é muito cara de pau!…
– Calma, Castor – disse Aslam. – Todos os títulos serão restituídos a quem de direito. Não vale a pena discutir por enquanto. – E, voltando-se para o anão: – Diga a sua senhora que o salvo-conduto está concedido, sob a condição de ela deixar a vara mágica debaixo daquele grande carvalho.”
(Lewis, C. S, “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa”, 3˚ edição, Martins Fontes, São Paulo, pg 135)
As famosas “Crônicas de Nárnia”, de C. S Lewis, se tornaram muito populares, principalmente depois do lançamento da série de filmes em 2005. E se tornaram a mais famosa obra no cenário do gênero de ficção cristã desde então. O trecho acima se trata de um diálogo que acontece no segundo livro da série, “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa”, enquanto acontecia a negociação da libertação de Edmundo, personagem que simboliza o pecador, das mãos da feiticeira branca, personagem que simboliza satanás e a morte. O Leão, uma representação branda da pessoa de Jesus, se sacrificaria no lugar de Edmundo. Essa é uma das alegorias mais óbvias que encontramos na obra de C.S Lewis, que era um cristão anglicano convicto.
Esse tipo de obra traz consigo muitos elogios e fãs apaixonados, mas também algumas críticas por parte de quem acredita que o evangelho não precisa desse tipo de expressão. Ou há quem simplesmente acredite que a representação de Cristo, em qualquer imagem, sob qualquer circunstância, fere o sagrado segundo mandamento da lei: “Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há no céu ou na Terra”. (Êxodo 20:4) No entanto, respeitando a fé e consciência de cada um, é ponto pacífico entre os que percebem a força da literatura e, especialmente da ficção, na construção de uma boa imaginação, que esse tipo de representação contribui para a compreensão de mensagens e símbolos.
Eu tenho experimentado a leitura de obras como essas com nossos filhos há aproximadamente cinco anos. E como é interessante perceber que a leitura, que já tem um impacto muito positivo na cognição e no aprendizado, se potencializa quando lemos livros como o de Lewis. Eu confesso que, quando mais novo, não tinha muita paciência para esse tipo de leitura, não entendia a riqueza de exercitar a imaginação e o quanto isso faz bem. Nunca havia percebido que esse tipo de exercício sempre foi utilizado por Deus com o seu povo, para guiá-lo e instruí-lo.
Uma vez, enquanto lia a versão do Rei James da Bíblia, me deparei com uma informação bem interessante sobre a imaginação. Quando Davi orou ao Senhor no fim de sua vida, fez declarações profundas sobre aquilo que desejava para o futuro de seu povo:
“Ó Senhor Deus de Abraão, Isaque e Israel, nossos pais, conserva para sempre na imaginação dos pensamentos do coração do teu povo, e prepara o seu coração para Ti.” 1 Crônicas 29.18 BKJ
Davi pediu a Deus para que a imaginação de seu povo fosse preparada como uma terra pronta para receber sementes. E assim, o coração das pessoas seria preparado para adorá-lo. Nossa mente é um campo a ser semeado. Nossa imaginação é o primeiro campo missionário que deveríamos, todos os dias, trabalhar, semear, enchê-la de toda a verdade de Deus. Ele sempre se ocupou de cultivar o imaginário de seus filhos, pois mais do que ninguém, sabe o quanto esse ambiente mental impacta no estilo de vida, na saúde da alma, nas escolhas cotidianas, nas conquistas que cada homem foi chamado a realizar. E, nesse sentido, o Reino de Deus pode ser melhor explicado à nossa alma. Nosso Cristo foi e é Mestre nessa arte. Afinal de contas, era um contador de parábolas.
Você conhece o livro “A biblioteca das histórias não contadas”? É uma fantasia baseada em princípios e muito bem escrita pela Gabriella Campos , que está disponível na loja da editora Servo Livre.
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