Reflexões

Um contágio preocupante

Temos refletido muito ultimamente sobre o contágio e proliferação de um vírus, um mal “invisível” e letal, que tem levando muitos de nós ao medo. Um dos dilemas que vivemos é justamente o fato de não se saber exatamente quem tem ou não o vírus, pois em determinadas circunstâncias ele não fica visível, não se manifesta de forma clara, podendo assim se disseminar muito rapidamente.

Me recorre à mente algumas advertências aparentemente duras e intransigentes das escrituras em relação à outro tipo de contágio preocupante. A contaminação com a carne e a mundo: Dois inimigos igualmente letais.

Judas adverte sobre a importância dos mais maduros socorrerem os mais vulneráveis e instáveis na fé, com toda a cautela. Como um profissional de saúde deve tomar todos os cuidados possíveis para não se contaminar ao tratar os infectados. O fato de serem maduros não os torna imunes aos efeitos do alto contágio da carne – nossa natureza caída e corrupta. A advertência era que se odiasse até mesmo a roupa contaminada pela carne:

E compadecei-vos de alguns que estão na dúvida; salvai-os, arrebatando-os do fogo; quanto a outros, sede também compassivos em temor, detestando até a roupa contaminada pela carne” (Judas 1:22.23)

Tal é o poder dessa nossa velha natureza e não nos damos conta. Qual será essa taxa de letalidade, taxa de transmissão? Como nos imunizamos dessa doença? A carne contamina as coisas do espírito sem que percebamos. O orgulho facilmente toma conta de motivos inicialmente espirituais por exemplo. A ira toma conta de motivos zelosos, a inveja e a obstinação contaminam o nosso desejo genuíno de crescer e prosperar, a vaidade contamina nossa disciplina pela vida saudável, a vaidade contamina nosso interesse inicialmente genuíno em servir de todo o coração.

A advertência quanto ao mundo é bem ilustrada quando Pedro fala sobre Ló, sobrinho de Abraão, que viveu em um contexto muito parecido com o nosso, onde a impureza, a maldade a relativização da verdade e do conhecimento de Deus eram comuns. O ambiente era Sodoma e Gomorra. Alguns da casa de Ló já se sentiam à vontade. Se tornaram totalmente integrados aos costumes e pensamento predominantes naquelas cidades. Mas Ló mantinha uma mentalidade diferente:

“E livrou o justo Ló, afligido pelo procedimento libertino daqueles insubordinados (porque este justo, pelo que via e ouvia quando habitava entre eles, atormentava a sua alma justa, cada dia, por causa das obras iníquas daqueles), é porque o Senhor sabe livrar da provação os piedosos e reservar, sob castigo, os injustos para o Dia de Juízo, especialmente aqueles que, seguindo a carne, andam em imundas paixões e menosprezam qualquer governo. Atrevidos, arrogantes, não temem difamar autoridades superiores” (2 Pedro 2.4-10)

Ló se afligia profundamente pelo procedimento deteriorante das pessoas de sua época. Aquela mentalidade que cultuava o prazer e a vontade própria, chocavam com os valores que Ló carregava:

Ainda não tinham ido se deitar quando todos os homens de Sodoma, jovens e velhos, chegaram de toda parte da cidade e cercaram a casa. Gritaram para Ló: “Onde estão os homens que vieram passar a noite em sua casa? Traga-os aqui fora para nós, para que tenhamos relações com eles!” (Gênesis 19.4-5)

Talvez esses valores tenham sido aprendidos com Abraão. E Ló os mantinha vivos e se incomodava com aquele modo de viver das pessoas de seu tempo. Vivia angustiado e afligido! Não se contaminava.

O Senhor sabe livrar da provação os piedosos. Aqueles que não se permitem contaminar, os quais adotam medidas de cautela, não em relação às pessoas, mas ao vírus que as contamina. Muitas vezes adotamos uma postura totalmente relaxada ao permitir que os valores do mundo e da carne nos contaminem. Cantamos suas músicas, ouvimos seus conselhos, admiramos seus poetas, assentamos em suas rodas, nos alimentamos do mesmo humanismo. Exaltamos o homem, os sentimentos, o prazer, o ter, o fazer, os objetivos obstinados. Necessitamos aprender a lidar com o rigor necessário para não adoecermos com as imundas paixões. O quadro mais grave da doença é chegarmos ao ponto de negarmos e rejeitarmos completamente a qualquer governo, inclusive o do Senhor sobre nossas vidas. 

“Andam em imundas paixões e menosprezam qualquer governo” (2 Pedro 2.10)

Ideraldo de Assis
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