Fome de Justiça
No mundo não existirá justiça perfeita até que Cristo estabeleça seu reino na terra. Porém, é nossa inevitável responsabilidade, como discípulos de Cristo, ser fatores de transformação social para que, onde seja possível, vivamos em uma sociedade mais justa. Quem tem fome anela ansiosamente por um pedaço de pão. Assim também, Jesus chama bem-aventurados aqueles cujo maior desejo é o de serem justos, santos, atuarem corretamente, viver em retidão.
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos” (Mateus 5.6).
A justiça tem diferentes aspectos: a justiça legal, a justiça social, a justiça moral, e outros tipos de justiça. Como nas bem-aventuranças Jesus está falando das virtudes morais das pessoas, seria correto entender que Ele se refere primordialmente à justiça moral como virtude de caráter. Isso de nenhum modo significa que não tenha aplicação a outros aspectos da justiça. Ainda mais, a justiça ou retidão moral é (ou deveria ser) o fundamento de todo tipo de justiça.
É justo dizer a verdade, não roubar, não cometer adultério. É justo que os filhos obedeçam a seus pais, que os pais não maltratem seus filhos. É justo ser pontual, pagar o que se deve, trabalhar as horas que nos correspondem, pagar bons salários, não dar nem receber suborno. É justo honrar os idosos, respeitar o direito dos mais fracos, ajudar os necessitados. É injusto insultar, ofender, zombar dos outros. É injusto falar mal do ausente, caluniar, difamar.
Muitas vezes essa bem-aventurança é aplicada de um modo inverso. Jesus não diz que devemos exigir que os outros façam justiça, ou sejam justos conosco, mas que nós devemos ser justos com os demais. Ele se refere àqueles que o que mais desejam na vida é ser justos diante de Deus e com todas as pessoas; isto é, os que quem fome e sede de ser como Jesus.
Aquele que tem sede está desesperado por água. O que tem fome anela ansiosamente por um pedaço de pão. Assim também, Jesus chama de bem-aventurados aqueles cujo maior desejo é ser justos, santos, agir corretamente, viver em retidão. Em resumo: Bem-aventurados os que desejam ser como Jesus, o Justo. Esta sede, aplicada à ordem social, tem dois aspectos: Uma, é nossa esperança final:
“Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça” (II Pedro 3:13).
Nós também temos sede e fome do dia no qual Jesus voltará, e fará justiça perfeita na terra.
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O outro aspecto é o enquanto isso. Enquanto aquele dia não chega, temos a responsabilidade de ser o sal da terra e a luz do mundo; ser o bom fermento para levedar a massa. Todos os genuínos avivamentos e sãs reformas sociais produziram mudanças nas nações. A escravidão foi abolida, os trabalhadores adquiriram direitos, a exploração do trabalho infantil foi suprimida, e coisas semelhantes. Em outras palavras, não devemos nos resignar ante as injustiças que subsistem na sociedade esperando a segunda vinda de Jesus.
E, mesmo sabendo que no mundo não existirá a justiça perfeita até que Cristo estabeleça seu reino na terra, é nossa inevitável responsabilidade como discípulos de Cristo sermos fatores de transformação social para que, onde seja possível, vivamos uma sociedade mais justa.
A justiça em muitas nações do ocidente se fundamenta no Direito Romano. Porém, a justiça de Deus é muito superior. Jesus disse:
“Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça” (Mateus 6:33).
A justiça do reino de Deus é totalmente diferente da justiça legal. Algo pode ser legalmente justo, mas moralmente injusto. Imaginemos o caso de uma pessoa que é proprietária de 100 casas. Talvez as adquiriu corretamente sob o ponto de vista legal. Mas nos perguntamos: É justo que um homem tenha 100 casas quando há 100 famílias que não possuem nenhuma moradia para viver dignamente? Segundo o Direito Romano, ou as leis de um determinado país, pode ser legalmente justo. Mas segundo a justiça de Deus, não.
É justo que os trabalhadores, que com seu esforço produzem as riquezas de um país, careçam do necessário para viver dignamente, que o salário não os permita nem sequer para sustentar sua própria família, enquanto os donos das empresas ganham excessivamente e gastam em luxos e desperdícios?
Na América Latina, o trabalhador, que é o verdadeiro produtor das riquezas, é mal remunerado. O empresário se justifica dizendo que pagou o que indica a lei. É justo que em nosso país a diferença entre o que ganha mais e o que ganha menos seja de 100 para 1?
Pensemos, por exemplo, na construção. Os pedreiros, sob o frio e o calor, trabalham construindo grandes edifícios, suntuosas casas, mas recebem um salário que apenas lhes dá condições para comer. Constroem casas esplêndidas, mas eles com suas famílias vivem agrupados em casas miseráveis. Isso é justiça?
Ter fome e sede de justiça não significa acusar ou criticar os ricos e poderosos (ainda que há casos em que necessitamos dar a palavra profética, como fez Tiago em sua epístola, capítulo 5:1-6); mas é saber que nossa responsabilidade primeira é esta: Se Deus prosperar economicamente a alguns de nós, ou se empresários se convertem, não deveriam ser guiados pela “justiça” do mundo, mas pela justiça do reino de Deus. Que amemos a nosso próximo, e paguemos aos que trabalham os melhores salários que estejam ao nosso alcance pagar.
E, por outra via, defendamos leis mais justas. A única esperança para que nossas nações sejam transformadas é a de que o reino de Deus chegue aos corações e converta os injustos em justos, e que as leis tenham em seu fundamento o amar o próximo como a si mesmo.
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Que Deus levante uma nova geração de empresários que sejam discípulos de Cristo e que atuem como Jesus! Se Jesus fosse um empresário, como pagaria os seus empregados? Não seria justo repartir as riquezas com aqueles que as produzem?
Porém, a justiça do reino de Deus não se limita aos campos moral e econômico.
É justo que um marido grite com sua esposa e a trate com violência? É justo que os filhos desrespeitem seus pais? É justo que uma criança seja abusada? É justo matar uma criatura no ventre de sua mãe? É justo sequestrar uma pessoa que pedir resgate? É justo o tráfico de pessoas? É justo se relacionar com a mulher de outro?
Clamemos de coração: “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu!”
Jesus declarou:
“Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas” (Mateus 7:12).
Outra consideração muito interessante é que Jesus define o ato de ajudar ao pobre como justiça, e não simplesmente de misericórdia (Mateus 6:1-4). Isso implica que agir com misericórdia é fazer justiça. A verdadeira justiça está intimamente ligada ao amor e à misericórdia. Dar aos pobres é agir com misericórdia, mas, segundo Jesus, também é fazer justiça. Por que? É porque não é justo que eu tenha abundância e outros não tenham nada (II Coríntios 8:14-15).
Santo Agostinho fazia uma distinção entre a “justiça retributiva” e a “justiça distributiva”. Devemos buscar que a justiça deste mundo seja cada vez mais “justa”; pois nunca haverá justiça perfeita. Então, ele sugeria que com a justiça distributiva corrijamos os abusos da retributiva:
“Vende tudo o que tens e dá–o aos pobres” (Mateus 19:21). Isso é justiça distributiva. Justiça unida à misericórdia.
Jorge Himitian
Extraído da página do autor no Facebook
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